Texto de Eduardo Galeano sobre Maradona viraliza nas redes
"O mais humano dos deuses". Texto do escritor Eduardo Galeano sobre Maradona viraliza nas redes após morte do ídolo argentino
Diego Armando Maradona, o indomável jogador de 1,65 metro, famoso por suas jogadas dentro de campo e suas declarações fora, morreu por volta do meio-dia desta quarta-feira (25), apenas 25 dias depois de completar 60 anos.
Maradona sofreu com as drogas, passou por internações, tornou-se nome de igreja na Argentina, arrastou séquitos e desafetos, com genialidade e irresponsabilidade.
Na politica, não hesitou em dar apoio a quem quis. Assim, foi abraçar Fidel Castro e defender Hugo Chávez. Da mesma forma, prestou solidariedade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em sua obra Fechado por Motivo de Futebol, o escritor uruguaio Eduardo Galeano definiu Maradona como “o mais humano dos deuses”, uma “síntese ambulante das fraquezas humanas, ou ao menos masculinas”.
O texto de Eduardo Galeano viralizou no Brasil e em outros países da América Latina após a morte de Maradona. Confira abaixo:
(Por Eduardo Galeano)
“Nenhum jogador consagrado tinha denunciado sem papas na língua os amos do negócio do futebol. Foi o esportista mais famoso e popular de todos os tempos quem rompeu barreiras na defesa dos jogadores que não eram famosos nem populares.
Esse ídolo generoso e solidário tinha sido capaz de cometer, em apenas cinco minutos os dois gols mais contraditórios de toda a história do futebol. Seus devotos o veneravam pelos dois: não apenas era digno de admiração o gol do artista, bordado pelas diabruras de suas pernas, como também, e talvez mais, o gol do ladrão, que sua mão roubou.
Diego Armando Maradona foi adorado não apenas por causa de seus prodigiosos malabarismos, mas também porque era um deus sujo, pecador, o mais humano dos deuses. Qualquer um podia reconhecer nele uma síntese ambulante das fraquezas humanas: mulherengo, beberrão, comilão, malandro, mentiroso, fanfarrão, irresponsável.
Mas os deuses não se aposentam, por mais humanos que sejam.
Ele jamais conseguiu voltar para a anônima multidão de onde vinha.
A fama, que o havia salvo da miséria, tornou-o prisioneiro.
Maradona foi condenado a se achar Maradona e obrigado a ser a estrela de cada festa, o bebê de cada batismo, o morto de cada velório.
Mais devastadora que a cocaína foi a sucessoína. As análises, de urina ou de sangue, não detectam essa droga.”