Churrascaria é multada por cartazes com “piadas” com Eliza Samudio e Isabela Nardoni
Churrascaria de São Paulo faz 'piada' com mortes de Eliza Samudio, Isabela Nardoni e fome na Etiópia. Cobrada nas redes sociais, a 'Primata Parrilla' reforçou que seu “marketing” envolve “piadas politicamente incorretas”
Uma churrascaria em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, publicou placas zombando e fazendo piada com as mortes de Eliza Samudio, morta e esquartejada sob as ordens do goleiro Bruno Fernandes de Souza, e Isabella Nardoni, assassinada pelo casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá.
Nas redes sociais, a Primata Parrilla faz diversas postagens com placas simulando frases e provérbios populares, e que supostamente teriam sido ditos pelos personagens envolvidos nos crimes e casos policiais.
“O cão é o melhor amigo do homem – Goleiro Bruno”, traz escrito uma das placas. Bruno, atualmente atleta do Rio Branco Futebol Clube, foi condenado pelo homicídio triplamente qualificado de Eliza Samudio, além do sequestro e cárcere privado do filho que teve com a modelo.
No julgamento do goleiro no TJ-MG (Tribunal de Justiça de Minas Gerais), em março de 2013, Bruno afirmou que não foi o mandante do assassinato de Eliza, mas disse que o corpo foi esquartejado e levado para os cães do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, também conhecido como Bola ou Neném.
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Em outra mensagem, a Primata Parrilla zomba do assassinato de Isabella Nardoni, de 5 anos, asfixiada e jogada do 6º andar de um prédio na capital paulista, onde morava com o pai, Alexandre Nardoni, e com a madrasta, Anna Carolina Jatobá.
“Filho a gente não cria para nós. Cria para jogar no mundo – Alexandre Nardoni”, escreveu a churrascaria.
Alexandre e Anna Carolina Jatobá foram condenados pelo homicídio triplamente qualificado. A madrasta foi condenada a 26 anos, em regime fechado, pelo crime e Nardoni a 31 anos.
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Além dos casos emblemáticos no Brasil, a Primata Parrilla também achou engraçado fazer piadas com as situações de extrema pobreza em países da África. “Fazer as refeições juntos une a família. Etiópia, povo sem união”, postou a churrascaria.
Marketing ‘Politicamente incorreto’
Cobrada nas redes sociais, a Primata Parrilla reforçou que seu “marketing” envolve “piadas politicamente incorretas”. “Guarde para você suas opiniões e dicas, estamos nem aí para cada uma delas. Acho válido? Use-as, mas não me venha encher o saco querendo impor suas regras prontas”, escreveu a churrascaria.
“A intenção não foi publicar nenhuma polêmica. Fazemos essa lousinha toda a semana e, a cada semana, a gente posta uma frase engraçada. O que tem nessa lousa? Piada. (…) Toda a semana a gente posta uma piada. Isso tudo é uma piada”, afirmou Daniel Arena Carrion, que se identificou como gerente e responsável pelas mídias sociais do restaurante, em um áudio compartilhado nas redes sociais.
Ao Yahoo, o gerente afirmou que as placas não manifestam a opinião pessoal dos envolvidos, mas que seguirá fazendo as “piadas” uma vez que avalia ser “liberdade de expressão”, inclusive as que envolvem crimes de repercussão nacional.
“Não é a nossa opinião. Eu repudio esses tipos de crimes. Não é que eu ache que assassinato ou um feminicídio seja piada. (…) É um humor ácido, e que eu acho que as frases são engraçadas. (…) Você pode até achar de mal gosto, está ok, no seu direito. Mas isso não me tira o direito de fazer a piada que eu quiser. Se na semana que vem eu quiser fazer uma piada com a mulher da Yoki, vou fazer”.
Carrion fez questão de frisar sua posição política. “Não sou nem de esquerda, nem de direita. Não acho que as ações do presidente sejam as melhores ou que as do Boulos, que agora está aí, sejam as melhores. Eu não tenho lado, meu lado é cumprir a lei”.
Multa
A Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor do Estado de São Paulo (Procon-SP) aplicou nesta terça-feira (1º) uma multa de R$ 1.134,85 por causa de mensagens consideradas desrespeitosas e abusivas feitas pela empresa em seu perfil em uma rede social.
A autuação foi feita após denúncias encaminhadas por consumidores ao Procon Municipal de Presidente Prudente que acabaram repassadas ao órgão estadual.
O auto de infração aplicado pela Fundação Procon-SP cita quatro frases de propagandas veiculadas pelo bar e petiscaria Primata Parrilla, que fica no Centro de Presidente Prudente, no período entre agosto e novembro deste ano.
1: “Fazer as refeições juntos, une a família! Etiópia, povo sem união”.
2: “O cão é o melhor amigo do homem. Goleiro Bruno”.
3: “Filho a gente não cria pra nós. Cria pra jogar no mundo. Alexandre Nardoni”.
4: “Usa e devolva. Máscara comunitária”.
No entendimento da Fundação Procon-SP, a frase que se refere à Etiópia “debocha” do país africano que “enfrentou uma situação de fome generalizada por mais de 30 anos”.
Ainda segundo o órgão estadual de defesa do consumidor, a mensagem relacionada ao cão como “melhor amigo do homem” remete ao crime de repercussão nacional e internacional que vitimou a modelo Eliza Samudio. A Fundação Procon-SP lembra que o crime teve a participação do goleiro Bruno, que confessou que a vítima está morta, e que Eliza Samudio foi esquartejada e depois teve as partes do corpo jogadas para cachorros comerem.
Em relação à frase sobre a criação de um filho, a Fundação Procon-SP interpreta que a mensagem “satiriza outro crime de repercussão nacional: o caso Isabella Nardoni, que foi jogada do sexto andar do prédio em que morava o pai e autor do crime, Alexandre Nardoni”.
“Todas essas publicidades desrespeitam valores da sociedade, como a dignidade da pessoa humana e o núcleo familiar”, pontua a Fundação Procon-SP no auto de infração.
O órgão estadual cita que o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária diz que todo anúncio deve ser respeitador e caracterizar-se pelo respeito à dignidade da pessoa humana, à intimidade, ao interesse social, às instituições e aos símbolos nacionais, às autoridades constituídas e ao núcleo familiar.
Além disso, salienta que o mesmo código condena a publicidade que revele desrespeito à dignidade da pessoa humana e à instituição da família.
“Assim, em todas as situações citadas, a [empresa] Autuada infringiu o artigo 37, parágrafo 2º da Lei 8.078/90 [Código de Defesa do Consumidor], por veicular publicidade abusiva, por ser discriminatória e incitar à violência ao satirizar homicídios de repercussão nacional e internacional”, ressalta o órgão estadual.
O trecho do Código de Defesa do Consumidor citado define que “é abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança”.
Por fim, o Procon-SP considera que a frase relacionada ao uso de “máscara comunitária”, utilizada no contexto da pandemia da Covid-19, “pode induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial a si mesmo, infringindo com isso o artigo 37, parágrafo 2º da Lei 8.078/90, por veicular publicidade abusiva”.
O estabelecimento comercial tem um prazo de defesa de 15 dias e a pena aplicada pela Fundação Procon-SP ainda poderá ser atenuada ou agravada.
João Conrado Kneipp, Yahoo e G1