Redação Pragmatismo
Saúde 16/Dez/2020 às 14:41 COMENTÁRIOS
Saúde

Laboratório do Exército tem 400 mil comprimidos de cloroquina parados

Publicado em 16 Dez, 2020 às 14h41

Com mais de 400 mil comprimidos parados, governo Bolsonaro prepara nova compra de cloroquina. O medicamento, que não tem eficácia contra o coronavírus, antes era produzido somente sob demanda para tratar malária. Não bastasse a sobra no Exército, o Brasil também recebeu uma remessa descarta pelos EUA

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Oficiais do exército recebem cloroquina em quartel (Imagem: ANASPS)

Taís Saibt, Agência Fiquem Sabendo

Com quase 400 mil comprimidos de cloroquina parados no Laboratório do Exército — estoque inédito do remédio, até então produzido apenas sob demanda para o tratamento de malária –, o governo brasileiro já prepara uma nova compra do medicamento para 2021.

“A produção é realizada por meio de demanda e sua distribuição é feita por semestre, razão pela qual não houve manutenção de estoque em anos anteriores”, explicou o órgão. Além de ser inédito, o estoque atual de cloroquina no Laboratório Químico Farmacêutico do Exército (LQFEx) é maior do que a produção dos últimos anos.

Conforme informado via LAI, o medicamento foi fabricado em 2012, 2015 e 2017, mas apenas em 2012 a quantidade produzida superou 400 mil comprimidos.

Aposta do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como tratamento para a Covid-19, mesmo sem respaldo científico, a cloroquina teve fabricação intensificada no LQFEx, chegando a mais de 3,2 milhões de comprimidos produzidos entre março e junho, dos quais 392 mil estão parados. O custo total da produção de 2020 passou de R$ 1 milhão e o prazo de validade dos lotes é de dois anos.

Não bastasse a sobra no Exército, o Brasil também recebeu uma remessa de hidroxicloroquina doada pelos Estados Unidos. Estima-se que o governo tenha 2,5 milhões de doses de hidroxicloroquina em estoque, as quais pretende distribuir gratuitamente através do programa Farmácia Popular, ao custo de R$ 250 milhões.

Nova compra programada

Mesmo com tantos comprimidos encalhados, o governo federal já prepara a compra de novos lotes de cloroquina para 2021. Também via LAI, a Coordenação-Geral de Assistência Farmacêutica e Medicamentos Estratégicos confirmou que “encontra-se em andamento um processo de aquisição do medicamento Cloroquina 150mg comprimido junto à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), visando abastecer a Rede do Sistema Único de Saúde no ano de 2021”. O órgão não informou a quantidade a ser comprada, justificando que se tratariam de “informações estratégicas”.

Na resposta, o Ministério da Saúde reforça que adquire o medicamento anualmente para atender ao Programa Nacional de Controle da Malária “e com o advento da pandemia pelo novo Coronavírus e as orientações de uso pelo Ministério da Saúde, este medicamento, passou a ser disponibilizado no SUS, desde 27/03/2020, para o tratamento da Covid-19”. O órgão explica que o medicamento é distribuído mediante solicitação dos Estados e, neste momento, não há demanda pendente, mas a aquisição da cloroquina 150mg “é realizada para uma cobertura de 12 meses de consumo”.

Nos últimos meses, o governo tem tentado desovar a cloroquina encalhada nos estados e municípios, chegando a quintuplicar a distribuição do medicamento ao SUS. Conforme dados do Open DataSUS, até 10 de novembro deste ano, o governo federal distribuiu 7,2 milhões de doses de cloroquina pelo país, sendo 5,8 milhões dentro do programa de tratamento da Covid-19, o que representa 81% do total. Outras 290 mil doses de hidroxicoloroquina também foram enviadas ao SUS para tratamento do coronavírus nos estados e municípios.

No documento “Atualizações e Recomendações sobre a Covid-19”, publicado em 9 de dezembro pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a entidade reiterou que o uso de cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, entre outras substâncias, não é recomendado no tratamento da Covid-19. “Os estudos clínicos randomizados com grupo controle existentes até o momento não mostraram benefício e, além disso, alguns destes medicamentos podem causar efeitos colaterais. Ou seja, não existe comprovação científica de que esses medicamentos sejam eficazes contra a Covid-19”, explica a SBI.

Em outubro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia publicado estudo afirmando que a cloroquina não é eficaz para tratar a Covid-19.

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