Manaus registra recorde de internações desde o início da pandemia; médico chora
Colapso hospitalar: em vídeo, clínico geral implora para que população fique em casa: "É devastador não ter material suficiente, não ter leito para esse pessoal esperar. Eu tenho medo do futuro, dos reflexos da pandemia, do que ela pode gerar de resistência bacteriana [...]"
A cidade de Manaus registrou o maior índice de internações por Covid-19 desde o início da pandemia. Segundo a Fundação de Vigilância em Saúde, foram 112 hospitalizações apenas nesta terça-feira (29).
A capital amazonense já registra colapso nos hospitais, com a possibilidade da instalação de câmaras frigoríficas para os corpos das vítimas da doença.
Para atender os pacientes com sintomas respiratórios e desafogar o sistema, tendas externas de triagem foram montadas no estacionamento de dois hospitais públicos da cidade. O cenário é semelhante ao que se viu no auge da primeira onda.
O médico Filipe Shimizu trabalha na linha de frente e publicou um desabafo nas redes sociais. Em vídeos, ele fala sobre o aumento no número de internações e óbitos, e narra as dificuldades vividas pela classe médica.
Filipe chega a se emocionar em alguns momentos e pede para que a população fique em casa. “Todos os colegas que eu tenho conversado estão extremamente extenuados. A impressão que dá é que é tão grande, tão forte quanto o começo da pandemia, lá em abril, maio”.
O médico compartilhou, ainda, alguns relatos de casos vividos durante esse período. Segundo ele, não existem palavras para descrever a tristeza de olhar para uma paciente e dizer se ela vai ou não acordar da entubação ou dar uma notícia de óbito para uma família.
“Tem que ter a cabeça muito no lugar. Mas mesmo com a cabeça no lugar e com toda tranquilidade, é muito difícil. Tá sendo muito desgastante físico e emocionalmente tudo. Fisicamente porque chega um paciente e a gente tem que preparar para a entubação, às vezes para a ressuscitação cardio-pulmonar, e cansa demais isso. Cansa demais. E mentalmente porque a gente não tem a certeza de como esse paciente vai se adaptar ao ventilador, de como o paciente vai responder às medicações para controle da pressão”.
“A gente tá dando mais do que a gente pode, de verdade, na questão da celeridade e qualidade nos atendimentos. Mas não tem como comportar tanta gente de uma vez só. Não está dando para atender todo mundo de maneira rápida. A gente, infelizmente, deve perder muito mais gente agora. Cada morte é sentida pela equipe médica, tanto quanto pela família, tenham certeza disso. A gente se sente muito responsável pelas vidas que a gente toca. É muito complicado quando a gente perde alguém”.
“Fiquem em casa, pelo amor de Deus. Só saiam para o extremamente necessário. […] A Covid tá voltando com tudo, numa velocidade assustadora e eu tenho medo do futuro, dos reflexos da pandemia, do que ela pode gerar de resistência bacteriana, de bactérias resistentes a alguns antibióticos prescritos de maneira equivocada por colegas médicos, tomados de maneira equivocada pelas pessoas. Enfim, a única forma de combater isso é permanecer em casa, se cuidando, principalmente cuidando dos outros. Não tem mais leito, não tem mais UTI, não tem mais corredor”.