Resgatados em condição de escravidão, trabalhadores em obra da Aeronáutica não tinham dia de folga e comiam formigas. Alguns dormiam em papelões e não havia água potável suficiente para todos
Sete trabalhadores em condições análogas à escravidão foram resgatados em Anápolis (GO). Eles eram responsáveis pela construção de um hangar dentro de uma unidade da Aeronáutica. Em depoimento, operários denunciaram, entre outras situações, ter comido formigas fritas com farinha para não passar fome.
Os operários atuavam para a Shox do Brasil Construções — uma empreiteira contratada pela Força Aérea para erguer uma estrutura metálica na Base Aérea de Anápolis. Os trabalhadores moravam em um alojamento que fica a quatro quilômetros da base aérea. Eles faziam o serviço diariamente, inclusive aos sábados, domingos e feriados.
Na casa onde foram instalados, os auditores fiscais e procuradores do trabalho encontraram falta de condições mínimas de acomodação e de higiene, além da falta de comida.
A Aeronáutica tem um contrato de R$ 15,3 milhões com a Shox do Brasil Construções para a construção do hangar na Base Aérea de Anápolis. O contrato foi assinado em janeiro deste ano.
A estrutura metálica que era construída pelos trabalhadores resgatados se destina a ser um espaço de manutenção do avião cargueiro KC-390, uma das apostas da Aeronáutica em termos de logística aérea.
Diante do flagrante de condições análogas à escravidão, os auditores à frente da operação notificaram a Shox para que apresente documentos; informaram a empresa sobre a condição análoga dos operários; determinaram que providenciem um local de permanência e passagens de volta aos estados; e embargaram tanto a obra dentro da base aérea quanto o alojamento.
Após a repercussão do caso, a Justiça do Trabalho em Anápolis concedeu uma liminar determinando a rescisão dos contratos e obrigando a empresa a pagar passagens rodoviárias, hospedagem e alimentação aos trabalhadores que querem voltar para suas cidades.
Durante a operação, auditores foram informados que fiscais do contrato, a serviço da Aeronáutica, já tinham conhecimento do que se passava no alojamento. Os operários resgatados são de Sergipe, Pernambuco e Paraná.
A casa usada como alojamento já abrigou 25 trabalhadores e não havia colchões para todos. Alguns dormiam sobre papelões, segundo os relatos colhidos. Um único chuveiro funcionava e os banheiros não tinham condições mínimas de uso, conforme os auditores.
Um capitão da Força Aérea acompanhou a fiscalização na casa. Não havia geladeira, fogão, cama, colchões e água potável suficientes para os trabalhadores.
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