Variante já foi identificada na Alemanha e nos Estados Unidos, entre outros países. Assim como cepa sul-africana, ela é mais transmissível e mais difícil de ser detectada por anticorpos, indicam estudos. Além disso, médicos relatam maior letalidade entre jovens
Bruno Lupion, DW
A variante do coronavírus do Amazonas, assim conhecida por ter sido detectada pela primeira vez em pessoas que estiveram no estado brasileiro, ao lado de cepas identificadas no Reino Unido e na África do Sul, aumentaram a pressão sobre governos para rastrear mutações do vírus e endurecer restrições a contatos sociais e viagens.
A cepa identificada no Reino Unido é mais transmissível que a versão anterior do vírus, o que faz aumentar o número de casos, internações e mortes pela doença, e também pode ser mais letal, mas estudos apontam que ela não afeta a eficácia das vacinas já aprovadas.
Já as variantes encontradas no Brasil e na África do Sul, além de serem mais transmissíveis, são mais difíceis de serem detectadas por anticorpos, segundo apontam estudos, o que reduz a capacidade de a pessoa infectada combater o vírus e possivelmente a eficácia de medicamentos à base de anticorpos . Estudos preliminares apontam que a cepa sul-africana reduz a eficácia das vacinas disponíveis – ainda não há pesquisas sobre como a variante brasileira se comporta em relação aos imunizantes.
O surgimento das variantes colocou em evidência um novo gargalo nos sistemas de diagnóstico dos países: a dificuldade de fazer o sequenciamento genético para identificar a linhagem do vírus nas amostras com resultado positivo. Sem isso, as nações ficam às escuras para monitorar a disseminação das cepas. O sequenciamento no Reino Unido, referência nesse quesito, é realizado em até 10% das amostras positivas.
Cepa do Amazonas
As mutações são um fenômeno esperado, ainda mais quando há milhares de pessoas sendo infectadas todos os dias. Quando o vírus ataca alguém e começa a se replicar, erros no seu processo de reprodução podem provocar mudanças aleatórias em sua estrutura. Se uma alteração torna o vírus mais eficiente para infectar e se reproduzir, essa variante tende a predominar sobre as outras.
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A cepa brasileira foi identificada pela primeira vez no Japão, em quatro viajantes que chegavam do Brasil e estiveram no Amazonas, e comunicada ao público em 10 de janeiro. Três dias depois, pesquisadores da Fiocruz Amazônia, em Manaus, confirmaram ter encontrado a variante em um paciente local, num caso de reinfecção pelo coronavírus.
Essa cepa possui 12 mutações, das quais três são iguais a mutações encontradas na sul-africana, “que podem impactar a transmissibilidade e a resposta imune do hospedeiro“, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A variante é associada à alta de casos de covid-19 em Manaus, que levou ao colapso do sistema de saúde e do fornecimento de oxigênio hospitalar na cidade.
Por ser capaz de escapar dos anticorpos, virologistas apontam que a variante brasileira também pode atacar com mais facilidade pessoas que já tiveram covid-19 antes, aumentando o número de reinfecções.
Reação na Europa
Assim como a pressão por mais rapidez nas campanhas de vacinação, a emergência das novas variantes ocupou a agenda de autoridades políticas e de saúde nos últimos dias. Na sexta-feira, a OMS pediu que as nações se esforcem mais para detectar e monitorar as novas cepas.
A Alemanha registrou a variante do Reino Unido pela primeira vez em seu território em 24 de dezembro e a da África do Sul, em 12 de janeiro. Na última sexta-feira (22/01), o país identificou o primeiro caso da cepa brasileira, em uma pessoa que viajou do Brasil para o estado de Hesse. Ela fez o teste ao chegar no aeroporto de Frankfurt, e uma análise de laboratório revelou que se tratava da variante originária do estado do Amazonas.
No domingo, a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, pediu ao ministro do Interior Horst Seehofer que analisasse alternativas para proteger o país das novas cepas. Nesta terça-feira, Seehofer afirmou que o governo considerava proibir praticamente todos os voos internacionais para o país. Desde domingo, a polícia federal alemã também intensificou o controle de passageiros de países considerados áreas de alto risco.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou na segunda-feira mais restrições do bloco a viajantes de áreas de risco, como o Brasil. “A situação na Europa com as novas variantes nos levou a tomar decisões difíceis mas necessárias“, escreveu ela em sua página no Twitter.
Na quinta-feira passada, o chanceler federal da Áustria, Sebastian Kurz, já havia afirmado, antes de um encontro de cúpula de líderes europeus: “Precisamos fazer todo o possível para evitar que outras mutações, como por exemplo do Brasil, sejam introduzidas na Europa.” Nesta terça, a Itália informou ter identificado três pessoas infectadas com a variante brasileira do vírus – todas haviam viajado ao Brasil recentemente.
Repercussão na imprensa
A discussão sobre as novas variantes do coronavírus chamou a atenção dos principais veículos de imprensa da Alemanha. O jornal televisivo Tagesschau transmitiu nesta segunda uma reportagem sobre as variantes do Brasil, Reino Unido e África do Sul, e como elas vêm causando preocupação entre cientistas e políticos do país.
O Tagesschau mostrou críticas à demora da Alemanha para ampliar o sequenciamento genético das amostras positivas para o vírus. O governo alemão estabeleceu regras sobre o tema em 18 de janeiro, que exigem que os laboratórios façam o sequenciamento de no mínimo 5% das amostras com resultado positivo. Os laboratórios recebem do governo alemão 220 euros por cada sequenciamento realizado.
Também na segunda, ao mencionar as novas variantes, o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, afirmou que havia “nuvens escuras” indicando um perigo de nova alta de casos, e que o relaxamento do lockdown estava mais distante, segundo reportagem da agência DPA que definia a variante brasileira como “provavelmente muito contagiosa“.
Em entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung publicada nesta segunda, a virologista Sandra Ciesek disse que a falta de sequenciamento genético tornava difícil estimar o quanto as novas cepas já haviam se espalhado, mas que investigações iniciais apontavam que as variantes, inclusive a do Brasil, ainda não eram predominantes. Contudo, ela afirmou que as cepas precisavam ser “urgentemente contidas” nos seus estágios iniciais e que o país deveria priorizar ações nesse sentido.
O jornal Die Zeit publicou reportagem em 20 de janeiro citando a hipótese, ainda em estudo, de que a variante do vírus encontrado no Amazonas contribuiu para que muitos moradores de Manaus que já haviam contraído covid-19 fossem novamente contaminados, já que o vírus conseguiria escapar de ser reconhecido pelo sistema imunológico de quem já enfrentou a doença.
Preocupação nos Estados Unidos
A variante brasileira também chamou a atenção dos Estados Unidos nesta segunda, depois que o estado de Minnesota confirmou ter encontrado no país o primeiro caso da cepa oriunda do Amazonas, em um morador do estado que havia viajado recentemente ao Brasil. No mesmo dia, o presidente Joe Biden restabeleceu restrições de viagem a passageiros procedentes do Brasil, do Reino Unido e da União Europeia, e a nova ordem passou a incluir a África do Sul.
Após o anúncio do caso de Minnesota, o epidemiologista chefe dos Estados Unidos, Anthony Fauci, afirmou à rede CNN que a variante brasileira pode se tornar “mais dominante”, por ser mais transmissível. “Se ela [a variante] tem a capacidade de se espalhar de maneira mais eficiente, é provável que se torne cada vez mais dominante, mas temos que esperar para ver“, disse.
Ao jornal The New York Times, Fauci afirmou que sua preocupação em relação à variante do Reino Unido e às variantes da África do Sul e do Brasil “é muito, muito diferente“, por estas duas últimas terem mutações que podem contribuir para o vírus ser mais resistente às vacinas.
A variante britânica já foi identificada em 22 estados americanos, e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) estima que ela possa se tornar a dominante no país até março. Não há casos confirmados da variante da África do Sul nos Estados Unidos até o momento. O país, porém, tem um baixo percentual de sequenciamento genético das amostras que dão positivo para o vírus.
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