Saúde

“Estão praticando eutanásia em Manaus”, revela médico do AM

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"Situação em Manaus é de medicina de guerra, onde profissionais estão admitindo que estão tendo que fazer procedimentos para abreviar a vida das pessoas. Se isso não for o fim do mundo, eu não sei o que será"

Homem chora do lado de fora do hospital 28 de Agosto, em Manaus. (FOTO: MICHAEL DANTAS / AFP)

Plinio Teodoro, Revista Fórum

Em vídeo divulgado nas redes sociais na madrugada desta terça-feira (26), Mário Vianna, presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam), diz que profissionais de Manaus estão “praticando eutanásia”, para reduzir a dor das centenas de mortes pela Covid-19 que estão sendo contabilizadas diariamente nas unidades de atendimento na cidade.

“Enquanto eu estou gravando esse vídeo, naquela televisão ali atrás, onde estou de plantão, acabou de passar uma reportagem onde uma médica declara claramente, emocionada, que estão praticando eutanásia em Manaus. Se isso não for o fim do mundo, eu não sei o que será o fim do mundo”, diz Vianna.

Emocionado, o médico faz, então, um apelo a Jair Bolsonaro. “Eu quero aqui implorar ao presidente Bolsonaro que ele faça alguma coisa imediatamente. Não é mais possível se ver o governo federal aturar essa situação. Eu espero que alguma atitude forte seja tomada”.

Vianna chega a citar uma possível intervenção na saúde do Estado “para evitar que mais pessoas morram e que haja uma convulsão da sociedade amazonense”.

“Autoridades tomem consciência da gravidade da situação. Uma situação de medicina de guerra, onde profissionais estão admitindo que estão tendo que fazer procedimentos para abreviar a vida das pessoas”, finaliza.

Mutação domina região

A nova variante do coronavírus de Manaus, identificada primeiro pelas autoridades de saúde no Japão, já é prevalente na capital do Amazonas e também foi observada no interior do estado, aponta estudo da Fiocruz Amazônia em parceira com a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas e o Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública) do estado.

Uma nova linhagem do Sars-CoV-2 no país, a B.1.1.28, já tinha sido identificada por pesquisadores da Fiocruz do Rio de Janeiro em dezembro último, ao mesmo tempo em que houve a confirmação de um caso de reinfecção do coronavírus com ela.

A variante de Manaus evoluiu regionalmente a partir dessa linhagem e agora carrega o nome de P.1. e virou uma linhagem própria, a B.1.1.28.1. De diferente ela possui dez mutações no gene que codifica a proteína S (de “spike” ou espícula, o gancho molecular usado pelo coronavírus para se conectar às células humanas), três delas na chamada região de ligação com receptor —algo preocupante porque ela está diretamente associada à entrada do vírus nas células.

De acordo com Felipe Naveca, pesquisador em saúde pública da Fiocruz e responsável pelo sequenciamento e pela identificação da variante, que ocorreu apenas três dias após o governo japonês identificá-la em quatro viajantes que visitaram a Amazônia, a cepa de Manaus já parece ser a mais frequente na região.

“Isso preocupa porque a P.1. tem dez mutações na proteína S, e três delas são as mesmas observadas nas variantes de fora do país, que podem estar relacionadas a maior transmissibilidade e maior letalidade”, diz.

Ainda é cedo para afirmar que a variante é mais letal, embora alguns médicos tenham feito relatos informais de que esta variante pode estar causando a hospitalização e quadro severo de maneira muito mais rápida do que o vírus antigo. SAIBA MAIS:

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