Paciente com Down que viralizou em foto abraçado a enfermeiro morre por falta de UTI no Amazonas. Emerson Loureiro, que estava com Covid-19, precisava de um leito para sobreviver. "Chorei muito", desabafou o enfermeiro
Emerson Junior Loureiro, paciente com síndrome de Down que foi abraçado por um enfermeiro no interior do Amazonas para receber oxigênio, não resistiu às complicações da Covid-19 e morreu na manhã desta quinta-feira (28). O falecimento de Emerson, de 30 anos, foi anunciado pela família do rapaz.
A foto emocionante do enfermeiro abraçando Emerson durante o tratamento viralizou nas redes sociais porque a atitude do profissional serviu para tranquilizar o paciente. O Amazonas enfrenta um novo surto de Covid, e sofre com colapso no sistema de saúde e falta de oxigênio nos hospitais.
Uma das irmãs de Emerson, Keiteane Loureiro, contou que ele foi transferido de Caapiranga, na segunda (25), para um hospital no município de Manacapuru, a 99 Km de Manaus, após a repercussão da imagem, que foi publicada com um pedido de leito de UTI para o rapaz.
“Já tinha um leito para ele em Manaus, mas não conseguimos levar, não deu tempo pois dependia da melhora da saturação dele para fazer esse trajeto. Durante a madrugada de hoje, a saturação subiu para 98. Nós comemoramos tanto, achando que ia dar certo, ele ia ser transferido, mas hoje às 8h, chegou essa notícia para gente, infelizmente. Ele era a joia, a luz da nossa existência”, disse.
“Chorei muito”
“Fiquei muito triste, chorei muito”, contou ao portal UOL o enfermeiro que aparece na imagem abraçado a Emerson.
“Ele teve a parada [cardíaca] e nós o intubamos aqui e o levamos às pressas a Manacapuru. Fomos ambuzando [fazendo ventilação manual] até lá, foram duas horas e meia de processo na viagem”.
Lá, Emerson foi intubado e estava internado. A cidade, porém, também não tem UTI. “Em Manacapuru, onde ele estava, pelo agravamento, era necessário aguardar estabilizar para transferir. Já tinha um leito certo de UTI, em Manaus, para transferência. E na quinta, à 1h da manhã, ele estava com situação boa. Agora pela manhã estava saturando 98%, mas agora informaram que ele faleceu”, afirmou o enfermeiro.
Para a infectologista e professora de Doenças Tropicais da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Vera Magalhães, a não transferência de um paciente grave para UTI é um fator que aumenta significativamente a chance de piora e morte.
“É óbvio que a falta de UTI contribui muito para o desfecho óbito. Algumas condutas em relação à covid-19 precisam ser realizadas precocemente. Eu não sei detalhes do caso, quais as alterações que ele teve, mas se ele necessitou de oxigênio, precisaria de dexametasona [corticoide usado na fase grave da covid], certamente precisou de intubação. Tudo isso retardado leva a um desfecho desfavorável, sem dúvida alguma”.
Vera ainda explica que a Síndrome de Down traz, muitas vezes, fragilidades orgânicas que podem tornar o estado de saúde do paciente mais grave.
“Down não é uma morbidade, porque não é uma doença. Mas o paciente tem, sim, uma maior vulnerabilidade em relação a covid-19. Eles, geralmente, têm alterações cardíacas e outras que fazem com que haja um um desfecho mais grave e desfavorável em relação a todas as infecções, inclusive à covid-19”.
Nas redes sociais, a morte de Emerson gerou muita comoção. “Muito triste e revoltante essa situação do Amazonas. É desesperador saber que estamos sem governo”, publicou um internauta.
“Faltam palavras para tamanho descaso desse governo abominável. Essa morte foi um soco no estômago. Que dor”, publicou outro.
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