Alunas de escola pública, duas adolescentes brasileiras de 17 anos descobriram, cada uma, um novo asteroide que nem a Nasa havia identificado
Marcela Duarte, Tilt
Duas adolescentes de 17 anos, alunas da rede estadual de ensino, descobriram, cada uma, um novo asteroide que nem a Nasa havia identificado. Micaele Vitória Cavalcante Gomes, de São José dos Campos, e Laura dos Santos Dias, de São Paulo, são participantes de um grupo de iniciação científica ligado à Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru (SP).
O asteroide que Micaele descobriu estava relativamente próximo ao Sol e recebeu o código P11bEV1. Já o nome provisório do asteroide encontrado por Laura é P11bNcu.
Os corpos celestes foram numerados pelo Minor Planet Center, da Universidade Harvard, e agora serão analisados por astrônomos para tentar determinar suas órbitas e outras informações. Após esse processo, que pode levar alguns anos, as garotas poderão escolher o nome oficial dos asteroides se seu ineditismo for confirmado.
O Projeto Caça Asteroides da Unesp foi idealizado e é coordenado por outra jovem: Helena Ferreira Carrara, 22, aluna da Licenciatura em Física da instituição.
Sonho astronômico
Micaele estuda na Escola Estadual Professor Estevam Ferri, no centro de São José dos Campos (SP), e é apaixonada pelo Universo. “A astronomia é uma das ciências que mais me causa questionamentos, então eu sempre gostei de me envolver em projetos de pesquisa, voluntariado e olimpíadas científicas“, conta.
A estudante começou a estudar um pouco mais sobre os corpos menores do Sistema Solar e se interessou cada vez mais em saber sobre eles. O Projeto Caça Asteroides ajudou bastante a saciar essa curiosidade.
Foi uma oportunidade única na minha vida, não só de estudar mais sobre os asteroides, mas de, quem sabe, fazer a descoberta de um novo objeto. Contribuir para o meio científico de alguma maneira é um dos meus grandes sonhos
“Nas imagens do telescópio, vemos desde enormes galáxias até pequenas rochas. Também podemos encontrar alguns erros de imagens, por isso o olhar atento é crucial. Quando desconfiamos que um ponto pode ser um asteroide, temos de analisar alguns gráficos e dados, como a variação de sua magnitude, declinação e ascensão reta“, explica Micaele.
Depois de perceber um novo asteroide, é preciso olhar para informações mais específicas para diferenciá-lo dos que já foram catalogados. “Descobertas assim ajudam no trabalho de astrônomos, que não têm como analisar todas essas imagens e dados. Sabendo da existência do asteroide, poderão estudá-lo sem perder tanto tempo procurando por ele“, conta a adolescente.
Micaele comemora: “Para mim, a importância dessa descoberta é gigantesca, significa a realização de um sonho e o começo de outros. Deixei um pouco dos meus sonhos registrados no espaço“.
Ela pretende ser cientista, pesquisadora na área da astrofísica ou até engenheira aeroespacial, e lutar pela democratização do meio acadêmico, “incentivando mais meninas, mulheres e estudantes de escolas públicas a fazerem ciência“.
Surpresa com a descoberta
Laura é aluna da Escola Estadual Professor José Vieira de Moraes, na periferia da zona sul de São Paulo. Ela ficou surpresa em, logo nas primeiras análises, ter encontrado um novo objeto.
Durante a análise das imagens, achei que um ponto não tão grande poderia ser um asteroide, por causa de sua movimentação constante e características. Eu já estava muito empolgada por ter achado um asteroide, mas em nenhum momento passou pela minha cabeça que ele pudesse ser inédito
Ela, que planeja se formar em astronomia ou filosofia, acredita que projetos assim podem incentivar mais adolescentes. “Espero que essa descoberta leve esperança para outros estudantes da rede pública que querem seguir carreira na área. Como sabemos, não temos tantas informações e projetos nas escolas que incentivem um primeiro passo como futuros cientistas, astrônomos e astrofísicos.”
Se puder batizar o asteroide no futuro, a paulistana irá homenagear a mãe, Rosilene, que a incentivou a participar do grupo.
A jovem coordenadora
Helena Carrara começou o Projeto Caça Asteroides em outubro do ano passado, com o intuito de divulgar a astronomia para adolescentes com interesse no assunto, mas que “muitas vezes não têm incentivo dos pais nem dos professores“, conta.
Sua equipe faz parte do International Astronomical Search Collaboration (Iasc), uma cooperação internacional no modelo cidadão-cientista, em que pessoas comuns podem procurar por asteroides e contribuir para a ciência.
Ela selecionou cinco alunos do ensino médio para participar e passou a fazer reuniões semanais para treinamento, antes de recebermos as imagens da Nasa. Periodicamente, recebem manuais, dados e imagens do telescópio Pan-Starrs, do Observatório Haleakala, no Havaí. Por meio do Astrometrica, um software para trabalhos astronômicos, as imagens são analisadas e monitoradas pelos participantes.
“Quando recebemos as imagens, eu separo um ‘set’ [pasta com cerca de cinco imagens da mesma localização] para cada aluno. Quando analisavam os delas, a Micaele e a Laura perceberam objetos em movimento. Então catalogamos os objetos e enviamos um relatório para o Iasc“, explica a coordenadora. E aí veio a surpresa: uma resposta de que aqueles objetos nunca haviam sido catalogados antes.
“Meu projeto tem como objetivo, obviamente, colaborar com as agências espaciais, mas mais importante que isso é incentivar crianças e adolescentes. Ter contato com projetos fora da escola, que trazem contribuições reais para a comunidade astronômica, os deixa confiantes para procurarem mais. Não ficar só naquela coisa de escola e vestibular“, acredita Helena.
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