África do Sul suspende uso da vacina de Oxford. O governo vai esperar conselhos de cientistas sobre como agir depois dos resultados em testes conduzidos pela Universidade de Witwatersrand demonstrarem ineficácia contra nova cepa
A África do Sul vai suspender o uso de vacinas da AstraZeneca para o coronavírus em seu programa de imunização. O motivo, segundo o governo, é que a vacina oferece “proteção limitada” contra doenças leves e moderadas causadas pela variante do vírus.
O ministro da saúde, Zweli Mkhize, disse neste domingo que o governo vai esperar conselhos de cientistas sobre como agir depois dos resultados decepcionantes em testes conduzidos pela Universidade de Witwatersrand.
O governo pretendia aplicar a vacina da AstraZeneca para trabalhadores do setor de saúde em breve, depois de ter recebido 1 milhão de doses produzidas pelo Instituto Serun, da Índia, na segunda-feira.
Ao invés disso, serão oferecidas vacinas desenvolvidas pela Johnson & Johnson e pela Pfizer nas próximas semanas, enquanto especialistas avaliam como o imunizante da AstraZeneca pode ser utilizada.
“O que isso significa para o nosso programa de vacinação, que dissemos que começará em fevereiro? A resposta é que continuará”, disse Mkhize, em uma entrevista coletiva online.
“A partir da próxima semana e pelas próximas quatro semanas, esperamos ter vacinas da J&J, vacinas da Pfizer. Portanto, o que estará disponível para os profissionais de saúde serão essas vacinas”.
“A vacina AstraZeneca permanecerá conosco … até que os cientistas nos dêem indicações claras sobre o que precisamos fazer”, acrescentou ele.
Proteção limitada
A farmacêutica britânica AstraZeneca disse no último sábado, 6, que sua vacina desenvolvida em conjunto com a Universidade de Oxford aparentemente oferece apenas uma proteção limitada contra a infecção causada pela variante sul-africana da covid-19, com base nos primeiros dados de um teste.
O estudo da Universidade de Witwatersrand, da África do Sul, e da Universidade de Oxford mostrou que a vacina reduziu significativamente sua eficácia contra a variante sul-africana, de acordo com uma reportagem do Financial Times.
“Neste pequeno estudo de fase I e II, os dados iniciais mostraram eficácia limitada contra infecções leves principalmente devido à variante sul-africana B.1.351”, disse um porta-voz da AstraZeneca em resposta à reportagem do FT.
O jornal disse que nenhum dos mais de 2.000 participantes do estudo foi hospitalizado ou morreu.
“No entanto, não fomos capazes de determinar adequadamente seu efeito contra infecções graves e contra hospitalização, uma vez que os indivíduos eram predominantemente adultos jovens saudáveis”, disse o porta-voz da AstraZeneca.
A empresa disse acreditar que sua vacina poderá proteger contra infecções graves, visto que a atividade de anticorpo neutralizante era equivalente à de outras vacinas contra Covid-19 que demonstraram proteção contra casos mais sérios.
O teste, que envolveu 2.026 pessoas, com metade sendo o grupo placebo, não foi revisado por pares, disse o FT. Embora milhares de mudanças individuais tenham surgido à medida que o vírus se transforma em novas variantes, apenas uma pequena minoria provavelmente será relevante ou alterará o vírus de forma perceptível, de acordo com o British Medical Journal.
“A Universidade de Oxford e a AstraZeneca começaram a adaptar a vacina contra esta variante e irão avançar rapidamente no desenvolvimento clínico para que esteja pronta para entrega no outono (do Hemisfério Norte), caso seja necessário”, disse o porta-voz da AstraZeneca.
Nova versão
Os desenvolvedores da vacina de Oxford/AstraZeneca afirmaram que estão trabalhando em um nova versão da vacina para combater a nova variante do coronavírus encontrada na África do Sul, disse à BBC uma das pesquisadoras envolvidas.
A declaração vem após novos estudos preliminares sugerirem que a vacina atual da AstraZeneca deve ter eficácia menor contra casos leves de novas variantes.
Uma expectativa é que a vacina atual da AstraZeneca seja efetiva para prevenir casos graves de coronavírus e hospitalizações, conforme disse a companhia em um comunicado anterior, mas não todos os casos leves. Os estudos em outras vacinas atuais — como a Coronavac, testada pelo Instituto Butantan e também usada no Brasil — têm mostrado resultados na mesma linha, com a possibilidade de que evitem a ocorrência de casos mais graves.
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“É fácil adaptar a tecnologia”, disse Sarah Gilbert, uma das pesquisadoras líderes do programa da vacina de AstraZeneca/Oxford, em entrevista à BBC neste domingo, 7.
Gilbert diz que o trabalho já está em desenvolvimento e que é “muito provável” que uma vacina contra a nova variante esteja disponível no outono do hemisfério norte (a partir de setembro no calendário do Brasil).
A pesquisadora confirmou também que a vacina tem eficácia menor contra a variante da África do Sul, mas disse acreditar na capacidade de que as vacinas atuais, ainda que menos eficazes contra as variantes, possam reduzir casos graves.
Reuters
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