Com a aprovação em queda, governo Bolsonaro vai investir em pautas ligadas à agenda de costumes para sair da defensiva, agitar a militância e “levantar voo”
Com a aprovação do presidente Jair Bolsonaro em queda, integrantes do governo traçaram um plano para reduzir a pressão provocada pela condução problemática na pandemia e tirar o Palácio do Planalto da defensiva — um representante do primeiro escalão definiu o momento como o de “levantar voo”.
Este grupo avalia que, para mobilizar a militância, é necessário levar adiante pautas ligadas à agenda dos costumes, como o ensino domiciliar, e a temas relevantes para setores do bolsonarismo, como a flexibilização do porte de armas, o direito de andar armado na rua.
De acordo com o Datafolha, o índice dos que consideram o governo Bolsonaro ruim ou péssimo passou de 32% para 40% no intervalo de um mês.
Auxiliares do presidente avaliam que as eventuais eleições de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara e de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) no Senado, aliados do Executivo, obrigarão Bolsonaro a se dedicar a uma agenda de reformas e privatizações, visto que não poderá mais atribuir insucessos ao atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Uma reforma ministerial também é defendida para que Bolsonaro consiga reorganizar a casa e dar um novo gás à sua gestão. A avaliação do grupo político que se aproximou do presidente é que o excesso de militares trava o andamento do governo.
Também é considerado essencial que se consiga dar fluxo à vacinação contra a Covid-19. A despeito das declarações do presidente desde o início da crise sanitária minimizando a doença, auxiliares acreditam que é possível reverter a imagem de que Bolsonaro foi displicente à medida que o número de pessoas vacinadas aumentar, e a pandemia arrefecer.
De acordo com interlocutores do Planalto, o presidente também deverá retomar o discurso do combate à corrupção. A avaliação é que, com a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, esta bandeira foi deixada de lado.
Caso os aliados sejam eleitos para os postos de comando do Congresso, o governo terá que se dedicar a emplacar as reformas administrativa e tributária, a autonomia do Banco Central, além de buscar a aprovação da chamada PEC Emergencial, que cria mecanismos para controle das despesas públicas, e das mudanças no Pacto Federativo, dando mais autonomia a estados e municípios.
— Temos que sair muito rápido da inércia — avalia o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).
Gestos ao mercado
O Planalto também quer concretizar pelo menos duas grandes privatizações para dar um aceno ao mercado, que se mantém alinhado ao ministro da Economia, Paulo Guedes.
A Eletrobras, segundo informações do governo, é a primeira da fila, seguida dos Correios. No caso da Eletrobras, no entanto, há forte oposição no Senado, e o próprio Pacheco não se comprometeu com o avanço da pauta.
Somente após a aprovação das reformas e das privatizações é que o governo poderia propor uma discussão sobre o teto de gastos, como admitiu um ministro. Nas palavras deste integrante do Executivo, a ideia não é propor “furar o teto”, mas sinalizar aos investidores como serão feitos gastos adicionais. Por ora, a retomada do pagamento do auxílio emergencial, embora defendida no Congresso, não tem previsão para se concretizar.
Jussara Soares, Agência Globo
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