Redação Pragmatismo
Saúde 25/Fev/2021 às 08:54 COMENTÁRIOS
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Covid-19: Brasil engata ponto morto e fica esperando por um milagre

Publicado em 25 Fev, 2021 às 08h54

Brasil completa um ano do 1º caso de Covid-19 na contramão do mundo. Enquanto cai o número de mortes diárias no planeta, país enfrenta novo pico

Covid-19 Brasil engata ponto morto esperando milagre
Eduardo Pazuello e Jair Bolsonaro (Imagem: Fotos Públicas)

Ricardo Kotscho, em seu blog

Mais um dia de notícia enguiçada (criação imortal de Alfredo Ribeiro, o Tutty Vasques, para dizer que não está acontecendo nada), vacinação quase parando, lockdown aqui e ali, nenhuma luz piscando no horizonte escuro.

Parece que o país engatou o ponto morto na beira da estrada e está em modo espera, esperando não se sabe o quê, talvez um milagre, uma aparição divina, alguma esperança, quem sabe.

Mas que milagre a essa altura poderia acordar a nação bestificada, diante das tenebrosas transações, para deixar tudo como está e ver como é que fica?

Vou e volto da janela, ligo e desligo a televisão, navego no noticiário da internet em busca de uma notícia boa, mas nada encontro de bom nem de novo.

O que há de novo não é bom e o que é bom não é novo. Até essa frase é velha…

Leia: Brasil tem a pior gestão mundial da pandemia, diz consultoria britânica

Só se fala naquela moça eliminada do Big Brother, nos desfalques do Flamengo, nos estragos das chuvas, mas nada disso dá manchete, nem título para a coluna.

Como meus colegas vão conseguir fazer o jornal de amanhã?

Jornal só deveria sair quando houver uma novidade capaz de despertar a atenção do leitor por algo que ele não sabia.

Há quanto tempo não somos surpreendidos por uma manchete no café da manhã?

Seis da tarde, só se ouve o zumbido de carros e motos passando na rua. Para onde vão todos com essa pressa?

Não se ouve um grito, uma criança chorando, alguém cantando ou brigando, som alto da TV do vizinho, o vendedor de pamonha, nada.

De repente, é como se tudo tivesse parado à minha volta, nem me lembro que dia é hoje, mas isso também não faz diferença.

Até já parei de acompanhar a previsão do tempo. Chova ou faça sol, amanhã estarei aqui escrevendo de novo. Os dias têm sido todos modorrentamente iguais.

À noite, na TV, tem o placar das mortes e dos novos casos da pandemia, mais números, números, números, mais desgraças, tudo sempre igual.

Hoje já paguei as contas, participei de uma reunião de trabalho, comprei comida e remédio pelo telefone, só falta escrever esta coluna diária, mas está difícil.

Aí me lembro que estou numa sinuca de bico.

Depois de fazer uma interminável bateria de exames, o médico me comunicou que um rim parou, tenho um tumor na bexiga e preciso fazer uma cirurgia na semana que vem, sem falta, mas ainda não tomei a vacina.

E agora? O que é mais perigoso: não fazer a cirurgia ou o risco de pegar covid no auge da pandemia?

No primeiro cronograma de vacinação, divulgado pelo governo de São Paulo, no final do ano passado, antes do general trapalhão assumir o comando das operações, minha faixa etária estava prevista para o dia 15 de fevereiro.

Estamos já no dia 24, e agora nem sei mais quando será. Ninguém sabe.

Quantas outras pessoas não estarão neste momento na mesma situação, esperando a vacina para programar suas vidas, com um mínimo de segurança, sem saber quando será sua vez, e se um dia ele chegará?

Pensei que quarentena fosse um período de 40 dias, como a Quaresma, mas a minha já esta durando quase um ano, trancado em casa, sem previsão de alta para poder voltar à rua. Velho, gordo e fumante, sou um cidadão de alto risco, um perigo ambulante, para mim e para os outros.

Tudo se tornou imprevisível, imponderável, nebuloso, sem sabermos se o pior já passou ou ainda vai chegar, qual o susto que levaremos amanhã.

Navegamos sem bússola para o desconhecido, ao sabor dos ventos e das marés, não temos mais o controle sobre nossas vidas. Pode acontecer de tudo _ ou simplesmente nada.

Chegar em terra firme virou uma miragem. Só mesmo por um milagre.

E assim vamos vivendo, um dia após o outro, com uma noite no meio.

Aconteceu alguma coisa hoje?

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