Colegas obrigam deputada a se desculpar por todas as maluquices que defendeu
Extremismo em baixa: caciques republicanos interferiram para impedir que a recém-eleita deputada Marjorie Taylor Greene virasse mais uma arma contra o partido. Em seu primeiro dia no parlamento, ela foi obrigada a se desculpar por uma série de absurdos de primeira grandeza que defendeu
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O que fazer com congressistas que vivem e prosperam nos extremos? Em determinadas circunstâncias, eles são úteis. Insultam colegas, gritam quando o presidente vai falar, tacam fogo no Twitter e atiçam os instintos mais primais da militância.
Em outras, viram um estorvo. Foi com isso em mente que os caciques republicanos interferiram para impedir que a recém-eleita Marjorie Taylor Greene virasse mais uma arma contra o partido, que já está amargando a perda da maioria no Senado, sem falar na Casa Branca.
A deputada da Geórgia teve que se desculpar, em termos cuidadosamente escolhidos, por “palavras ditas no passado e coisa que não me representam”.
“Fui levada a crer em coisas que não eram verdadeiras”, penitenciou-se em rápido discurso na Câmara.
As tais “coisas” são uma coleção de maluquices de primeira grandeza. Incluindo o conspiracionismo alucinado promovido pelo Q Anon, segundo o qual Trump era um santo guerreiro ungido para acabar com a cabala dominada por pedófilos infiltrados nos principais escalões da elite, evidentemente globalista.
Outra: a imigração em massa de muçulmanos para a Europa é dirigida por “supremacistas sionistas”.
Mais uma: os incêndios florestais na Califórnia foram desencadeados por um “laser espacial” para abrir caminho à construção de uma linha de trem-bala. Envolvendo judeus, naturalmente.
E as piores de todas: a matança em massa de estudantes por colegas surtados, o sinistro fenômeno recorrente nos Estados Unidos, é encenada para justificar o confisco de armas.
Maluquices assim dominam o vasto universo das teorias conspiratórias, do qual Taylor Greene participou entusiasticamente antes de ser eleita como um nome novo, uma adepta entusiástica do CrossFit, das armas pesadas e de Donald Trump.
Normalmente, já seria embaraçoso para o Partido Republicano ter alguém tão sem noção falando besteiras ridículas.
A questão ficou mais séria depois que muitos conspiracionistas da pesada misturaram-se aos trumpistas apenas ingênuos que acreditam que a eleição de Joe Biden foi fruto de trapaça eleitoral e participaram da invasão do Capitólio, a sede das duas casas do Congresso americano.
Com a faca e um queijo tão deliciosamente fácil de ser esmigalhado na mão, o Partido Democrata forçou uma situação em que os adversários republicanos tinham muito a perder: ou não faziam nada, levando o crédito indigesto pelo destempero da deputada, ou a condenavam, correndo o risco de se indispor com a base trumpista mais inflamada, que está lambendo as feridas, mas ainda tem força.
A alternativa foi chamar Marjorie Taylor Greene para uma conversa de adultos. Em troca, ela não teria seu nome cortado das duas comissões para as quais conseguiu ser designada, a do Orçamento e a de Educação e Trabalho.
Não adiantou muito: com a maioria na mão, o plenário da Câmara votou por cortar seu nome das comissões, uma punição praticamente sem precedentes.