Anderson Pires*
O presidente Jair Bolsonaro já cometeu toda sorte de crimes desde que chegou ao governo. Antes já era adepto de rachadinhas, funcionários fantasmas, compras suspeitas de imóveis com dinheiro em espécie e relações com milicianos.
Como parlamentar se notabilizou pelas agressões que fez a deputadas, à presidente Dilma, apologia à tortura, divulgação de fake news, criação do kit gay imaginário, defesa do uso indiscriminado de armas, mentiras a respeito da ditadura no Brasil (que ele diz que nunca existiu), além de prática de racismo e preconceito a homossexuais, que são crimes previstos na legislação brasileira.
Usou a tribuna sempre de forma covarde para essas condutas delituosas. Em seu gabinete na Câmara dos Deputados, chegou a ter um mural com fotos de diversas personalidades, dos quais, alguns colegas deputados, que dizia: Se o Governo Militar foi o que dizem, essa corja não estaria viva.
Passou trinta anos impune. Seus atos foram sempre tratados de maneira permissiva. Era comum dizerem que era apenas um louco e desconsiderarem, visto que, não imaginavam que tivesse condições de um dia ocupar algum cargo executivo, que permitisse colocar em prática as suas sandices e promover todo tipo de irregularidade conforme sua moral distorcida.
Como dizem hoje os movimentos negros: não basta não ser racista, sejamos antirracistas. Essa consciência faltou em momentos em que muitos parlamentares, Ministério Público, Judiciário e meios de comunicação deveriam ter sido implacáveis em não permitir que um fascista declarado continuasse destilando suas ideias desumanas. A condescendência com que Bolsonaro foi tratado ao longo de 30 anos no parlamento, agora expõe todo um país ao risco de morte. Faltou quem gritasse: não basta não ser fascista, sejamos antifascistas.
O bolsonarismo (uma versão tupiniquim do fascismo) tinha muito mais seguidores que se poderia imaginar. Numa conjuntura onde a política não servia mais como alternativa, que o ativismo judicial resolveu interpretar as leis com base em convicções e a moral cristã atuou para amplificar preconceitos, a omissão das instituições diante de tantos exemplos de ilegalidades e de desrespeito ao ser humano que Bolsonaro praticou em sua trajetória pública, teve como consequência o quadro de desgoverno em que vivemos.
Não vou me alongar em crimes que seriam passíveis de abertura de impeachment. Está mais que claro que, durante todo o ano de 2020, Bolsonaro prevaricou sucessivamente no que diz respeito ao combate à covid-19, como também estimulou práticas que, certamente, levaram à morte milhares de pessoas no país.
Alguém tem dúvidas que desconsiderar a gravidade da pandemia levou ao aumento da circulação do vírus? Será que não restringir movimentação em aeroportos e fronteiras agravou a situação? Prescrever medicamentos sem qualquer eficácia, não seria prática de charlatanismo? Aqui abro um parêntese, com a conivência do Conselho Federal de Medicina, que também deveria ser responsabilizado. Para completar, Bolsonaro resolveu boicotar vacinas pelos motivos mais absurdos e não tomou providências que garantissem a vacinação para toda a população brasileira. Mais um parêntese: sequer a população de risco está assegurada.
Se todas essas atitudes não são suficientes para um movimento político em que o presidente Bolsonaro seja deposto do poder, o que mais se pode esperar? A instalação de câmaras de gás para o tratamento de infectados? Ou o açoite em praça pública para quem defender a vacina? No final das contas é isso que estamos vivendo. Quando se morre por falta de oxigênio decorrente da prevaricação, o crime passa a ser outro. É assassinato em massa, extermínio coletivo.
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Mais absurdo é saber da conivência que existe no parlamento brasileiro. Nenhum dos processos de impeachment que foram levados à presidência da Câmara dos Deputados teve prosseguimento. Alguns podem acreditar que Rodrigo Maia seria conivente com os crimes de Bolsonaro. Na verdade, Rodrigo Maia sabe que não existe correlação de forças dentro do Legislativo para se aprovar um processo de impeachment. Dessa forma, entre travar o debate público, que poderia inflamar uma massa que ainda está apática, prefere o conchavo de bastidores para manter o controle da casa. Afinal, Rodrigo Maia só entende política feita de maneira subterrânea, como fez no processo que tirou Dilma Rousseff de forma injusta.
Diante da falta de mecanismos políticos, caberia ao Ministério Público e ao Judiciário fazerem valer a Constituição Brasileira e obrigarem que o presidente cumpra seu papel como gestor e faça valer os direitos fundamentais que o povo tem direito.
Na falta disso, só resta resgatar o que tantos diziam ser os motivos para os absurdos que Bolsonaro praticava, a loucura. Acredito que seu maior problema seja a ruindade e falta de caráter, mas como isso não qualifica um pedido de interdição por incapacidade mental, que a loucura sirva para que nos livremos de toda sua capacidade de fazer o mal.
*Anderson Pires é formado em comunicação social – jornalismo pela UFPB, publicitário, cozinheiro e autor do Termômetro da Política.
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