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Jornalista é demitido após questionar Bolsonaro e recebe ameaças

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Jornalista que fez única pergunta pertinente e fora do roteiro a Bolsonaro em coletiva de imprensa é demitido. O presidente demonstrou irritação e encerrou a entrevista após o questionamento. Além da demissão, repórter está recebendo ameaças de morte

João Renato Jácome (Imagem: reprodução)

O prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom (PP), demitiu o jornalista que fez uma pergunta que incomodou o presidente Jair Bolsonaro na última quarta-feira durante uma coletiva feita em sua passagem pelo Acre.

Na última quarta-feira, João Renato Jácome questionou Bolsonaro qual era sua posição em relação à decisão tomada na véspera pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) de anular a quebra dos sigilos bancário e fiscal do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), seu filho mais velho, no caso da “rachadinha”.

O presidente não gostou da pergunta e encerrou a entrevista abruptamente, sem responder. “Acabou a entrevista”, anunciou.

No mesmo dia, o prefeito, que é aliado de Bolsonaro, exonerou João Renato do cargo de chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

O jornalista afirma que estava de folga no dia, em função de decreto que estabeleceu rodízio na prefeitura por causa da pandemia e por ter trabalhado, mesmo assim, dez dias consecutivos, e atuava como freelancer (sem vínculo empregatício) do jornal O Estado de S. Paulo e do site local Notícias da Hora.

O repórter conta que tem recebido ameaças desde que fez a pergunta que contrariou o presidente. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgou nota nesta sexta-feira (26) condenando a decisão do prefeito e pedindo sua reintegração ao cargo.

“Fui pego de surpresa. Eu fiz o trabalho no meu dia de folga. Não fiz uma pergunta ofensiva ao presidente. Acho que ele pode ter entendido errado. Não tive a intenção de constrangê-lo”, disse João Renato. “Minha família está abalada. Recebi mensagens pelas redes sociais de que eu devia morrer, de que devia levar porrada, de que eu era comunista e um desgraçado. Minha vida ficou de cabeça pra baixo”, relatou.

O jornalista conta que ficou sabendo pela imprensa de sua exoneração, confirmada na edição do Diário Oficial do município nesta sexta-feira (26). “Não quero crescer em cima desse episódio. Só quero trabalhar, pagar minhas contas, seguir com a profissão que escolhi e para a qual me formei, sem ser perseguido por ninguém”, afirma.

Jácome é formado em jornalismo pela Universidade Federal do Acre e cursou até o quarto ano da faculdade de Biologia. Sua experiência de sete anos no jornalismo, desde que tinha 19, é focada na área ambiental.

No modelo de plantão e rodízio que foi implantado na secretaria durante a pandemia, ele trabalhou durante o final de semana e estava de folga naquela quarta, quando pegou o freelancer do Estadão.

Antes disso, já trabalhava para veículos antipetistas. “Comecei minha carreira combatendo o PT”, conta Jácome, referindo-se a seu emprego de repórter no portal ‘AC24Horas’, o maior do estado.

A partir do que diz Jácome, é possível concluir que o jornalista nem chega a antipatizar tanto com o presidente Bolsonaro. Ele só achou que podia fazer uma simples e pertinente pergunta.

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