Jovem destrói o fígado após usar ivermectina para tratamento contra Covid-19
Jovem contrai hepatite medicamentosa e poderá precisar de transplante de fígado após tratar Covid-19 com ivermectina. Caso foi revelado pelo presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia. Laboratório que criou o vermífugo lançou esta semana um alerta sério sobre o medicamento
O médico pneumologista e presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT), Frederico Fernandes, revelou em seu perfil no Twitter o caso de uma paciente que contraiu hepatite medicamentosa devido ao uso de ivermectina no tratamento contra a Covid-19. A mensagem publicada no sábado (6/2) logo viralizou na internet.
“Me solicitaram uma avaliação para uma paciente com hepatite medicamentosa. Ganha um troféu quem adivinhar qual medicação foi a culpada”, diz uma das mensagem de Fernandes. “Pois é… Hepatite medicamentosa por ivermectina. 18 mg por dia por uma semana. Por covid leve em jovem”, completa o pneumologista em outra mensagem.
De acordo com o médico, a jovem “está a um passo de precisar de um transplante de fígado” por usar ivermectina. “Muito triste ver uma pessoa jovem a ponto de precisar de transplante por usar uma medicação que não funciona em uma situação que não precisa de remédio algum”, assinalou o médico na rede social.
A ivermectina é um vermífugo, eficaz contra parasitas, como piolhos, mas não tem resultado contra a Covid-19, como atestou o próprio laboratório que o criou, Merck. Em comunicado distribuído no dia 4/2, a empresa informa não haver evidência de que o produto funcione contra a infecção causada pelo novo coronavírus.
No documento, a Merck, que deteve a patente da ivermectina até 1996, disse que não há base científica para um potencial efeito terapêutico potencial contra a Covid-19 em estudos pré-clínicos já publicados. A empresa acrescentou também que não há evidência significativa de eficácia clínica em pacientes com a doença.
O laboratório ainda destacou que há uma preocupante ausência de dados sobre segurança da substância no contexto da Covid-19 na maior parte dos estudos. “Não acreditamos que os dados disponíveis sustentem a segurança e a eficácia da ivermectina além das doses e dos grupos indicados nas informações de prescrição aprovadas por agências regulatórias”.
Ao longo da pandemia ganhou força no Brasil a informação sem base científica de que o medicamento seria eficaz contra a Covid-19. Um dos grande impulsionadores do uso da substância foi o presidente Jair Bolsonaro. Ele chegou a anunciar que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) facilitaria o acesso ao medicamento para uso contra a Covid-19 ao não cobrar mais retenção de receita.
Mas a Anvisa contestou essas informações, sustentando que não existiam estudos conclusivos sobre o uso do medicamento no contexto da Covid-19. “As indicações aprovadas para a ivermectina são aquelas constantes da bula do medicamento”, reforçou a Agência.
A droga também foi incluída no ‘kit covid’ do Ministério da Saúde, indicado como tratamento precoce contra a doença. No kit estão inclusos ainda hidroxicloroquina, azitromicina, nitazoxanida, além de vitaminas C, D e zinco. Medida sem amparo da comunidade científica internacional, das autoridades sanitárias e de órgãos internacionais, como a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Apesar disso, um levantamento do Conselho Federal de Farmácia, divulgado pelo G1, mostrou que a venda desses remédios disparou em 2020 – a hidroxicloroquina saltou 113% e a ivermectina, 557%.
Medicamentos sem eficácia contra a Covid se tornam problema extra durante a pandemia. Mais da metade dos médicos brasileiros reconhece a ineficácia da ivermectina e da cloroquina no tratamento contra a Covid-19, segundo uma pesquisa realizada pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pela Associação Paulista de Medicina (APM), revelou o Jornal Nacional.
Estudo feito pela AMB e pela APM mostra que 65,3% dos médicos avaliam a cloroquina como ineficaz para o tratamento e 58,6% afirmam que a ivermectina não tem nenhum efeito. “Essas drogas, esses tratamentos não mostraram que possam alterar o curso da doença, tampouco o desfecho final mais temido, a morte por agravamento da doença. Ademais, essas medicações têm efeitos colaterais”, afirmou ao JN o presidente da AMB, Cesar Eduardo Fernandes.
Além de não trazer benefícios, medicamentos como ivermectina e cloroquina são potencialmente perigosos no tratamento contra Covid-19. O diretor do complexo hospitalar Clementino Fraga, referência no combate à Covid na Paraíba, Fernando Chagas, relatou ao JN o caso de um paciente que apresentou arritmia cardíaca enquanto tomava cloroquina e ivermectina associados, na fase inicial da doença.
“Nos deparamos com alargamento do intervalo QT. Esse intervalo do QT alargado evidencia, para gente, uma demora maior que o coração sofre para recarregar entre uma batida e outra. É um tipo de arritmia que pode ser perigosa. Então, diante de uma situação dessas, a gente tem que suspender de imediato as medicações”, afirmou Chagas ao telejornal.
O professor de emergências clínicas da USP Luciano Cesar Azevedo contou ao JN que tem sido comum pacientes chegarem aos hospitais com complicações pelo abuso dessas medicações. “O risco é de interações medicamentosas significativas. Você tem uma medicação que potencializa o efeito da outra e a gente tem visto paciente que tem tido efeitos adversos, tipo dor de cabeça, diarreia, alterações hepáticas”, frisou.
Em nota conjunta, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a AMB afirmam que as melhores evidências científicas demonstram que nenhuma medicação tem eficácia na prevenção ou no tratamento precoce para a Covid-19 até o presente momento, segundo o jornal O Tempo.
“É compreensível que, no início, fossem adotados medicamentos sem benefício comprovado. Afinal, muitos pacientes estavam morrendo. Entretanto, há meses, temos dados suficientes para abandonar o uso dessas medicações, por provas contundentes de que não ajudam no tratamento e também podem estar implicadas em riscos adicionais não desprezíveis”, salientou o médico infectologista e professor da USP Esper Kallás em recente artigo publicado na Folha.
Agência ICTQ