O primeiro beijo gay do BBB e o cancelamento definitivo de Lucas Penteado
Primeiro beijo gay entre dois homens pretos em rede nacional desenjaulou a liberdade, mas foi considerado inconcebível. Lucas Penteado não resistiu às novas humilhações e questionamentos e decidiu abandonar o programa
Depois de ser alvo de uma série de perseguições e humilhações dentro da casa do ‘BBB 21’, o jovem Lucas Penteado foi definitivamente cancelado na manhã deste domingo (7).
Lucas decidiu abandonar o programa global após uma noite tensa. Durante uma festa, o ator beijou Gilberto, abertamente gay, e foi julgado por alguns participantes que disseram que ele se aproveitou para fazer jogo de cena.
Em vez de celebrarem e acolherem a saída do armário do colega, esses participantes passaram a falar que o beijo teria sido uma estratégia de jogo. Lucas teria beijado um homem ao vivo na televisão para “ter mais chance no jogo”.
A psicóloga negra Lumena foi uma das que mais demonstrou irritação. Ela é conhecida por se julgar no direito de decidir o que é certo e o que é errado dentro da casa.
Lumena acusou Lucas de querer se promover. “Lucas tá usando os pretos para se autopromover. Primeiro foi uma agenda racial e agora uma agenda LGBT. Eu não fico falando da minha mulher e que sou sapatão”, disse Lumena em conversa com outro participante.
Incomodada por descobrir que não existe só ela de LGBT no mundo, a participante decidiu ir atrás de Lucas questioná-lo sobre o beijo. “Eu não quero ser palco para sua performance (bissexualidade). Enquanto você não fizer de verdade, eu não serei palco de sua palestra”, disse Lumena, debochando do beijo.
A saída de Lucas foi confirmada pela própria produção do programa, ao vivo, durante o reality. “Vocês agora são 18, lembrem-se do que vieram fazer aqui”.
Repercussão
Lucas protagonizou o primeiro beijo gay entre homens da história do ‘BBB’ e o seu abandono repercutiu muito nas redes. Pelo massacre diário que sofria dentro da casa, o ator era considerado um dos favoritos a vencer o prêmio de R$ 1,5 milhão.
“Era para ser um momento histórico, mas alguns participantes do Big Brother não viram assim. O beijo gay entre dois homens pretos desenjaulou a liberdade, mas foi questionado. A sexualidade de Lucas foi questionada. Aliás, ele foi questionado do início ao fim, quando pediu pra sair. A violência psicológica feita por algumas participantes contra ele foi grave e a política do cancelamento pela lacração a todo custo o destruiu por dentro. Quão válido é o caminho de oprimir? É a voz pela superação do preconceito ou o caminho de dividir e segregar? Pelo visto, em breve a tal moça será ‘tombada'”, escreveu a deputada Jandira Feghali.
“Lucas não desistiu do sonho de ganhar um milhão e meio porque quis. Mas porque sofreu ataques covardes, que não podem ser aceitos nem dentro do programa nem fora dele. Curioso, casais héteros são formados desde que o programa existe e todo mundo acha normal, não? Por que só o beijo do Lucas seria armação? Um rapaz da favela daria um beijo em outro homem ao vivo na televisão como estratégia? Quantos riscos ele assumiu quando deu esse beijo?”, questionou a jornalista Nina Lemos.
“A mensagem que fica desse episódio lamentável é: quem pratica homofobia e racismo vence. E praticar bullying é um ótimo negócio. Quem foi punido? A vítima. Os abusadores podem comemorar a vontade”, continuou Nina.
“O que aconteceu com o Lucas é exatamente o que acontece com todos os jovens da periferia todo dia no Brasil”, escreveu o rapper Marcelo D2.
“Lucas tem o corpo mais odiado do Brasil. O mais torturado — nas ruas, nos becos, nas viaturas. A existência mais negligenciada pelo governo, mais oprimida pela sociedade. Cada mínimo gesto dele tira a paz do sistema: seja dança, poema ou beijo. Ninguém quer ver o tesão do Lucas. Nada nele é “certo” pelas lentes racistas. Pois reencarna o menino que levou seu celular e saiu veloz, nos flagras da câmera jornalística. Lucas lembra 174, Capitães de Areia. O Brasil não quer ver o Lucas, quer destruí-lo há séculos. Mas o Lucas é multidão. Insiste em renascer e sobreviver. Lucas ganhou muito mais que um milhão. Lucas quebrou a banca, virou o jogo, escancarou tudo, e jogou a verdade inconveniente no espelho do país. Sem acolher Lucas, o Brasil vai continuar vivendo essa mentira branca e cancelando seu próprio futuro”, publicou Rafael Dragaud.