Ministério Público abre inquérito para investigar médico brasileiro que anunciou ter tomado duas doses de vacinas diferentes contra a Covid-19 em um intervalo de apenas quatro dias
O Ministério Público (MP) de Assis, no interior de São Paulo, abriu inquérito nesta terça-feira (16) contra um médico da cidade que anunciou ter tomado duas doses de vacinas diferentes contra a Covid-19 em um intervalo de apenas quatro dias.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, na segunda-feira (15), o médico Oliveiro Pereira da Silva Alexandre disse que tomou uma dose da CoronaVac, imunizante desenvolvido pelo Instituto Butantã em parceria com a farmacêutica chinesa SinoVacn, e outra da Oxford/AstraZeneca.
De acodo com o G1, o caso também é investigado pela Prefeitura de Assis e pela cooperativa médica à qual ele pertence através de possíveis processos na Justiça. O vídeo foi removido na terça-feira (16).
“Lembra que eu falei para vocês que eu tomei a CoronaVac e, por minha conta, eu tomei a da AstraZeneca. Isso não pode, tá bom? Isso não pode“, disse Oliveiro no vídeo.
O pneumologista ainda contou como conseguiu o acesso às vacinas. “A nossa Unimed conseguiu a AstraZeneca, que até o momento parece ser a melhor vacina. Eu tomei essa também com seis dias de diferença”, disse.
O médico fala no vídeo que, dias após tomar a primeira dose, da CoronaVac, recebeu uma ligação de um hospital particular para que fosse imunizado. Segundo ele, o informaram que as vacinas que não forem usadas terão que ser descartadas por causa do resfriamento, vence o tempo dela ficar exposta e a gente não pode usar mais.
“Eu pensei: ‘bom, a vacina vai ficar perdida se eu não tomar, não faz diferença’. Mas eu posso trocar a outra dose da CoronaVac pela Astrazeneca, foi esse o meu raciocínio lógico. Eu vou lá, tomo da Astrazeneca, é dose única, já estou na linha de frente mesmo, estou protegido, e a última dose da CoronaVac eu não tomaria, fica à disposição para outro cidadão. Então ninguém tomou vacina de ninguém, ninguém ficou sem vacina por minha causa”, afirmou.
Intervalo de menos de uma semana
A Prefeitura de Assis confirmou que o médico tomou as doses de laboratórios distintos. A primeira, no dia 29 de janeiro, no Hospital Regional e na condição de servidor público que trabalha na linha de frente de combate à pandemia.
Já a segunda dose, da AstraZeneca, o médico conseguiu receber no dia 2 de fevereiro, como beneficiário de um convênio da cooperativa médica da qual ele é integrante e que montou um posto de vacinação para profissionais da saúde que atendem casos suspeitos na rede particular.
Na terça-feira (16), o secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, afirmou que o governo “não compactua com este tipo de atitude”, que contraria os protocolos de que quem toma uma determinada vacina deverá tomar a segunda dose da mesma vacina.
“Todas as irregularidades estão sendo acompanhadas de perto pelo MP para avaliar as condutas de quem deu a dose, quem recebeu, e por que isso aconteceu fora do que é preconizado pelo PNI [Plano Nacional de Imunização]. Cada dose de vacina é patrimônio público e o seu uso incorreto deve ser apurado”, disse Gorinchteyn.
MP pede detalhes
De acordo com o G1, o procedimento do MP também dá prazo de 10 dias para que a prefeitura informe detalhes de como se dá a vacinação no município e explique as circunstâncias que possibilitaram que um agente público tivesse acesso às primeiras doses de imunizantes de fabricantes diferentes fornecidos pelo poder público.
Ainda segundo o jornal, os promotores também cobram do Hospital Regional, onde o médico é servidor, informações sobre as providências adotadas para apuração da responsabilidade administrativa do médico.
Em nota, a Secretaria de Saúde do Estado informou que os municípios foram orientados quanto à correta aplicação das vacinas contra Covid-19 disponíveis até o momento, e há também orientações nas bulas.
Em nota, a Unimed Assis informou que a cooperativa foi apenas um ponto de vacinação, por meio de uma parceria com a Secretaria de Saúde do município.
No texto, a cooperativa reforça que não comercializa doses da vacina, tendo apenas disponibilizado algumas unidades para profissionais de saúde, conforme critérios estabelecidos no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19.
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