Pesquisa mostra como Zuckerberg, Gates, Bezos e outros bilionários se comunicam. Um dos pontos do estudo mostra que a visão dos 100 analisados foi moldada por “uma ideologia meritocrática”. Eles não possuem uma visão crítica sobre seu privilégio financeiro, pois acreditam que tudo foi conquistado com esforço
Um estudo publicado na revista PLoS ONE analisou as contas no Twitter e em outras redes sociais das 100 pessoas mais ricas na área de tecnologia, definidas pela lista da revista Forbes, para entender como a “elite tecnológica” se comunica com os milhões de usuários na plataforma e como ela se enxerga.
Os pesquisadores concluíram que o grupo estudado tem uma “identidade social distinta” após analisarem o uso da linguagem e das emoções em seus tuítes, em comparação com a população americana que também usa a rede social.
De acordo com a publicação, as 100 pessoas analisadas acumulavam um patrimônio líquido de 1,081 trilhão de dólares em 2017, ou 0,4% da riqueza global total naquele ano. Deles, 94 são homens e a média de idade é de 54 anos. Metade são americanos, 17 são chineses, 7 são do Leste Asiático, Canadá e Europa têm 5 cada e apenas 1 é do Brasil.
19 dos 100 são fundadores, executivos e investidores em empresas de tecnologia como Facebook, Google, Amazon, Airbnb, eBay e Microsoft. No topo da lista, estão Jeff Bezos, Bill Gates e Mark Zuckerberg.
“Não fomos capazes nesta pesquisa de rastrear todos da nossa amostra no Twitter”, explicam os pesquisadores em seu estudo. A plataforma é um concorrente de redes como Facebook, Snapchat e Google, além de ser bloqueada na China e não ter a presença de alguns empreendedores mais velhos.
Por essas razões, os resultados podem ser menos robustos para os bilionários mais idosos ou chineses. “Ainda assim, podemos alcançar respostas mais precisas do que as amostras aleatórias em estudos do mesmo tema”, afirmam.
Como a ‘elite tecnológica’ se comunica
O que o estudo descobriu é que a linguagem dessa parcela da população é muito voltada para a realização. Palavras que entram na categoria de metas e conquistas foram mencionadas 19.431 vezes, o dobro para a população geral, que usou palavras desta categoria 9.439 vezes.
O uso das palavras “pode”, “ótimo”, “pessoas” e “novo” também são bastante frequentes. A hipótese formulada pelo grupo de pesquisadores é que o grupo enxerga seu trabalho na área de ‘tecnociência empresarial’ “como impulsionados pelo desejo de tornar o mundo um lugar melhor” e que sua linguagem reflete isso.
Outro ponto relevante do estudo é a relação da riqueza dos analisados com a democracia. “Como representantes de uma elite econômica, eles não veem ou não querem comunicar uma conexão entre esses componentes”, disseram os pesquisadores, que acreditam que essa visão não é compartilhada pela população geral.
Por último, os pesquisadores acreditam que a visão dos 100 analisados foi moldada por “uma ideologia meritocrática”. Eles não questionam seu privilégio financeiro, pois acreditam que tudo foi conquistada com esforço.
“Eles não têm uma visão crítica do papel que desempenham em relação à abundância de poder”, disse um dos participantes da pesquisa em um comunicado à imprensa. “Eles negam seu papel no estabelecimento de padrões e influenciam a democracia com seu capital financeiro.”
Exame
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