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PM que matou empresária trans em motel se apresenta na delegacia

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PM que matou empresária trans de maneira covarde em suíte de motel se apresenta com advogado. Polícia só passou a investigar o caso após pressão do noticiário. Vídeo flagrou fuga desesperada do assassino

Jeremias (esq) e Manuella Otto

com Amazônia Real

Na madrugada do último sábado (13/2), por volta de 1h34, funcionários do motel “Minha Pousada”, localizado na zona Norte de Manaus, ouviram disparos de tiros vindo de um dos quartos. Um homem é filmado pelas câmeras de segurança saindo com pressa com uma pistola na mão e encobrindo o rosto com uma camiseta.

As imagens também mostram que ele tem uma tatuagem nas costas, na região do omoplata direito. Sem conseguir abrir a porta da garagem do motel, o homem usa o veículo e arromba a porta do estacionamento, deixando a cena do crime brutal contra a atriz, produtora, empresária do ramo de animação de festas infantis e ativista do movimento Trans, Manuella Otto, de 25 anos.

O homem que matou Manu, como era mais conhecida a defensora dos direitos de pessoas travestis e transexuais do Amazonas, disparou dois tiros contra ela, que não teve a chance de se defender: um disparo atingiu as costas e atravessou o tórax; o outro o braço esquerdo, segundo o laudo do Instituto Médico Legal (IML).

O homem em fuga foi identificado como sendo o soldado da Policial Militar Jeremias da Costa Silva, que é lotado na 12ª Companhia Interativa Comunitária (Cicon). O veículo usado na fuga é um Chevrolet Prisma, de cor branca e placas PHJ-1418, de propriedade do soldado Jeremias.

A Polícia Militar do Amazonas informou que abriu um Inquérito Policial Militar (IPM) para analisar o suposto envolvimento do policial no crime de homicídio. A PM informou que ele estava afastado das atividades policiais no dia do crime.

No fim da manhã da segunda-feira (15) de Carnaval, a Delegacia de Homicídios informou que não tinha pistas do soldado Jeremias ou de outros envolvidos no caso. “O crime foi no sábado, né? Ainda não chegou por aqui. Quando chegarem as informações é que vão destacar alguém para investigar o caso. Mas por enquanto o que tem sobre isso é o que saiu na mídia”, disse um policial à agência de notícias Amazônia Real. Ele pediu para não ser identificado, apesar de ser um agente público que está no cargo para esclarecer crimes.

A revolta é grande entre as ativistas do movimento das pessoas Trans e defensoras de direitos humanos. “A Manuella era uma atriz, tinha uma companhia de entretenimento infantil. Era uma empresária, fazia animações em festas infantis. Ela chegou a ser professora do Cláudio Santoro e do Sesc. Então, estamos falando de uma pessoa que tinha uma carga de conhecimento, experiência dentro do teatro, e ela teve a sua vida ceifada de forma brutal. Aí tem um algoz que é um policial militar e o silêncio ensurdecedor segurança pública do estado”, lamenta Michele Pires Lima, que faz parte da diretoria da Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Amazonas (Assotram).

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A transativista Michele Pires Lima é historiadora e mestranda na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Para ela, a morte de Manuella Otto revela a vulnerabilidade da população transexual no Amazonas, no que diz respeito à segurança. “O caso Manuella Otto é muito triste. A gente não se sente segura e protegida pelos mecanismos de segurança pública. A gente está à mercê. Aí a gente se pergunta, a quem recorrer?”, questiona.

PM se apresenta com advogado

Acompanhado de um advogado, Jeremias da Costa Silva se apresentou na Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS) na manhã de terça-feira (16).

“Ele não respondeu aos questionamentos da autoridade policial, o que é direito dele. Há imagens que mostram um homem saindo do local com uma camisa na cabeça, para dificultar sua identificação. Cabe a nós angariar como provas necessárias para identificar esse homem ”, disse o delegado Charles Araújo.

A morte de Manu aconteceu 15 dias após a data em que o mundo comemorou a visibilidade trans, em 29 de janeiro. “O Brasil é o País que mais mata pessoas trans, que mais mata travestis, mulheres trans e homens trans no mundo. Então a gente não quer novamente que Manuela se torne uma estatística. Queremos que haja justiça de alguma maneira”, cobrou a historiadora Michele Lima.

VÍDEO: