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Além de porrada, o que Daniel Silveira e gente como ele oferecem ao Brasil?

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Quem, até o começo da semana, já tinha ouvido falar de Daniel Silveira terá dificuldade de lembrar algum projeto ou posicionamento que não fosse agredir, constranger ou eliminar alguém

Daniel Lucio da Silveira e Jair Messias Bolsonaro (Imagem: reprodução)

Matheus Pichonelli, Yahoo

Torcido e retorcido, o único projeto do deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ), preso desde terça-feira 16 por ordem do Supremo Tribunal Federal, se resume a uma ideia fixa: dar porrada.

O lema ecoa o bordão do Maçaranduba, um velho personagem da trupe Casseta & Planeta. Por alguma razão o Brasil decidiu em 2018 transformar a piada em força política.

Quem, até o começo da semana, já tinha ouvido falar de Daniel Silveira terá dificuldade de lembrar algum projeto ou posicionamento que não fosse agredir, constranger ou eliminar alguém.

Foi assim quando ele se juntou ao insuspeito Wilson Witzel, então candidato a governador do Rio, para rasgar uma placa em homenagem a Marielle Franco, vereadora metralhada em via pública no início daquele ano.

Foi assim também quando sugeriu à polícia encher de bala o peito de manifestantes que em meados do ano passado foram às ruas defender a democracia.

E foi assim no vídeo que o levou à prisão. A diferença é que agora as possíveis vítimas podem se defender.

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De limite em limite, os ministros do STF decidiram, por unanimidade, não esperar que o deputado valentão estapeasse algum membro da Corte ao vivo sob a justificativa da livre expressão. Livre agressão, no caso.

Como já dissemos, Silveira é a síntese, em versão marombada, do bolsonarismo.

Torcido e retorcido, o discurso do presidente também não vai além de ameaça e promessas de agressão e/ou exclusão de todo mundo que não dobre a espinha para ele, inclusive antigos aliados que tiveram a audácia de apontar a estreiteza de seu projeto para a vida útil da nação.

Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, por exemplo, saíram pela porta dos fundos do Ministério da Saúde após tentarem avisar o presidente que não se combatia uma pandemia com pouca vacina e muito vermífugo. Viraram inimigos.

Como Silveira, Jair Bolsonaro também encontrou na política um abrigo após desmoralizar a instituição que deveria servir. A Polícia Militar, no caso de Silveira, um colecionador de punições na corporação, e o Exército, que estava no encalço de um capitão indisciplinado e boquirroto quando ele decidiu escapulir. Hoje ambos se aproveitam da exposição pública para fingir que se importam com a lei e a ordem. Isso quando não são eles os investigados, claro.

Vistos em sequência, os ataques de Bolsonaro à imprensa, na véspera do vídeo-ameaça do deputado de sua base, parecem hoje episódios conectados, frutos do mesmo espírito de quem tenta atacar na porrada tudo aquilo que extrapola seu entendimento.

O capitão andava enfurecido porque não conseguia receber imagens postadas por seguidores em sua página de Facebook. Isso o levou a atacar o Facebook e dizer que o certo era tirar de circulação os veículos de imprensa que ousam fazer exercício de jornalismo sobre seu governo —um deserto de ideias cercado por nuvens de fumaça e inapetência por todos os lados. Soube-se depois que o problema estava nas configurações na página do presidente.

Bolsonaro é aquele cara que quer consertar a pane no computador dando um tiro no monitor. Silveira quer fazer o mesmo com o sistema de Justiça que parece não compreender.

Fosse um quadro humorístico, o Maçaranduba da ficção não teria nada a oferecer ao país a não ser tiro, porrada e bomba, com crises diplomáticas desnecessárias plantadas nas redes contra instituições e parceiros comerciais, decretos para facilitar a aquisição e circulação de armas e normas para livrar de problemas quem resolve qualquer problema na agressão.

Na TV o valentão provocaria riso pelo absurdo.

Na vida real e com mais dois anos de mandato a cumprir, as versões reais do personagem ainda podem distribuir muito coice antes de levar um país inteiro ao abismo.

Em tempo: já passam de 240 mil o número de mortos em uma pandemia. Quem diria que os valentões treinados para a guerra e a destruição não saberiam o que fazer quando precisassem salvar vidas?

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