Os responsáveis pelo abandono de Lucas e a tragédia do BBB
Nego Di, Karol Conká, Lumena e Projota: principais algozes de Lucas foram os que mais deveriam tê-lo estendido a mão. A depender do julgamento que essa edição do BBB está exibindo para o Brasil, diversas conquistas oriundas de lutas legítimas passarão a ser questionadas
Paula Vianna
Pronto, Lucas Penteado, ator e ativista do movimento estudantil, negro e de esquerda, saiu do Big Brother Brasil. Saiu não por decisão do público, como é o modus operandi do programa, mas após sair do armário durante a festa da última madrugada e ser mais uma vez atacado pelos demais participantes do programa. A intolerância da vez foi à bissexualidade, que os demais brothers tacharam de estratégia para ganhar o jogo.
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Na semana, Lucas já havia sido vetado na prova do líder, que consistia, resumidamente, em disputar quem eram os melhores “funcionários” de um McDonalds de “brinquedo”.
O veto partiu de Nego Di, que havia afirmado sua posição política ao dizer que movimento estudantil é coisa de vagabundo.
Todos os demais participantes puderam disputar a liderança do jogo, menos Lucas. Poucas atitudes poderiam ser mais simbólicas do resultado do vale-tudo, canibalismo entre irmãos e esvaziamento do ativismo social que o programa está mostrando.
Poucas, mas o enredo do programa, supostamente espontâneo e construído coletivamente, foi capaz de se superar no quesito intolerância. Recado endereçado à campanha eleitoral que está por vir?
Em apenas uma semana de programa, a rapper Karol Conká, apelidada de Jaque Patombá em referência ao refrão de seu hit de mulher empoderada “Já que é pra tombar, tombei”, humilhou e segregou Lucas, impedindo sua presença à mesa na hora do almoço, hostilizou o jeito de ser e falar do Nordeste e protagonizou cenas que beiram ao assédio sexual com outro brother.
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A psicóloga e influencer Lumena parece querer ser a única porta-voz do movimento negro e questões identitárias, dizendo que não vai dar palco para o colega Lucas ser Zumbi dos Palmares, mas calando-se diante de outro brother, Nego Di, que atacou o movimento estudantil.
O rapper Projota compactua com a exclusão de Lucas, combina sua saída, deixa o menino falando sozinho e ainda debocha de seus trejeitos.
Como Lucas, os três são vozes potentes do movimento negro. Como se identificar com quem escolhe agir assim em vez de se apoiar uns nos outros e combater o preconceito? E se fossem brancos, despertariam a mesma rejeição?
Numa sociedade polarizada como a nossa, colocar pretos contra pretos, mulheres contra mulheres e vítimas de preconceitos como xenofobia e lgtfobia, em confronto, fortalece a neutralidade política e o posicionamento de centro.
Lucas Penteado
Outro sintoma dessa linha editorial do BBB21 é o cancelamento.
O pavor de ser cancelado foi alvo de diversas discussões e ainda ganhou do apresentador Tiago Leifert uma categoria com ares de revanche: o papel do “cancelador”, legitimando o argumento de que questionar atitudes fora do marco civilizatório é mimimi.
Há uma semana acompanhando as polêmicas dessa edição do BBB, marcada pela forte presença de ativistas negros e causas identitárias, dá pra perceber que o enredo já disse a que veio: mostrar que não importa sua bandeira de justiça social, o indivíduo é falho, que o muro deve ser o lugar do brasileiro e que entre a esquerda e a extrema-direita, só quem pode nos salvar é o suposto equilíbrio neoliberal de Luciano Huck e sua turma.
Como respaldar e divulgar essa tese? Usando um experimento humano com audiência ímpar para desacreditar dia a dia os participantes que entraram no programa com um histórico de representatividade social.
A depender do julgamento que essa edição do BBB está exibindo para o Brasil, a juventude preta e engajada de Lucas, Karol, Lumena e Projota corre o risco de ver suas lutas e conquistas ainda mais questionadas pelo Brasil branco brasileiro.
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Fora da casa, Lucas será recebido com amor e compreensão por quem sabe que a luta é a unidade da esquerda, e que os movimentos sociais são nossa única saída para uma sociedade mais justa.
*Paula Vianna é jornalista cultural