Saúde

“Não vai fazer lockdown para me foder e eu perder a eleição, né?”, disse Bolsonaro

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Reunião que culminou na recusa de Ludhmila Hajjar para o comando do Ministério da Saúde teve pedido inusitado de Bolsonaro: “Você não vai fazer lockdown no Nordeste para me foder e eu depois perder a eleição, né?”

Ludhmila Hajjar

A cardiologista Ludhmila Hajjar, que recusou nesta segunda-feira (15) o convite para ser ministra da Saúde, acredita que a o Brasil pode dobrar o número de mortos por covid-19 caso o governo de Jair Bolsonaro não mude o foco sobre a pandemia.

“Um cenário sombrio com 500 mil, 600 mil mortes, com sequelas e consequências à longo prazo que não estejam sendo pensadas”, disse a médica à GloboNews.

Ludhmila disse que chegou esperançosa para conversas com o presidente, mas que não houve uma mudança do posicionamento dele. A médica, cardiologista em São Paulo, teria se reunido na tarde de ontem com o presidente, o ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Ludhmila, que tem 43 anos, considera que não houve um boicote do presidente à sua linha de pensamento, mas que ambas são conflitantes. “A preocupação é o impacto econômico da pandemia, o impacto social da pandemia”, disse, em entrevista.

De acordo com reportagem do portal Poder360, em determinado momento da reunião Bolsonaro dirigiu-se a Ludhmila no seu estilo que mistura franqueza com rispidez: “Você não vai fazer lockdown no Nordeste para me foder e eu depois perder a eleição, né?”.

A médica fez críticas à condução da guerra contra a Covid-19 e ao chamado ‘tratamento precoce’, que não se mostrou eficaz nem na prática nem em teoria. “Estamos discutindo cloroquina, azitromicina, ivermectina; isso é coisa do passado, e a ciência já deu esta resposta”.

Carro blindado

As ameaças de apoiadores do presidente contra Ludhmila levaram a cardiologista a adotar medidas de segurança pessoal para ela e sua família. A médica afirmou ao jornal O Globo que contratou segurança profissional e que passou a andar de carro blindado. “Já estou com carro blindado e segurança desde hoje cedo”, disse.

A especialista chamou de “assustador” os ataques que recebeu de parte da base bolsonarista – que incluíram vazamento de dados e intimidações à sua família.

Em um dos casos por ela relatados, três pessoas tentaram entrar no hotel onde ela estava hospedada e acessar seu quarto, se passando por membros de sua equipe médica. A segurança do hotel barrou a investida dos indivíduos, que acabaram por não ser identificados pela médica.

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