Voto de Gilmar Mendes no julgamento da suspeição de Moro provocou reação do JN. Coube a William Bonner tentar rebater o ministro do STF
O julgamento da suspeição do ex-juiz Sergio Moro tomou quase toda a edição do Jornal Nacional desta terça-feira (9). O principal telejornal da TV Globo rebateu críticas realizadas pelo ministro do STF Gilmar Mendes.
Em seu voto, Gilmar Mendes citou a mídia diversas vezes e afirmou que a imprensa exerceu papel fundamental para alçar, de maneira artificial, o ex-juiz da Lava Jato ao posto de herói nacional. A ação orquestrada pela mídia, pontuou Gilmar, tinha objetivos claros.
Em um trecho do voto, Mendes reproduziu uma menção a um jornalista da Globo citado na operação Spoofing que revelou diálogos atribuídos a Moro com procuradores da operação Lava Jato.
“Tudo isso não se realizaria sem um tipo de cumplicidade da imprensa. É bom que se diga isso. Esse modelo de Estado judicial totalitário que se desenhou teve a complacência da mídia. Tudo tinha que ser noticiado dentro dessa perspectiva”, disse o ministro.
No Jornal Nacional, coube a William Bonner tentar rebater as observações de Gilmar Mendes. O âncora da Globo afirmou que o ministro do STF “atacou a imprensa” e leu uma breve nota em resposta:
“Em relação ao jornalismo da Globo, é preciso dizer que aqui nós nos dedicamos a registrar os fatos, as suas repercussões e os seus desdobramentos. Como estamos fazendo agora na cobertura do julgamento da suspeição do ex-juiz Sergio Moro”.
Confira trechos do voto de Gilmar:
“A histórica recente do Poder Judiciário ficará marcada pelo experimento de um projeto populista de poder político, cuja tônica se assentava na instrumentação do processo penal, na deturpação dos valores da Justiça e na elevação mítica de um juiz subserviente a um ideal feroz de violência às garantias constitucionais do contraditório, da ampla defesa, da presunção da inocência e principalmente da dignidade da pessoa humana”.
“O resumo da ópera é: você não combate crime cometendo crime. Ninguém pode se achar o ó do borogodó. Cada um terá o seu tamanho no final da história. Calcem as sandálias da humildade. Eram as palavras daquele que vos fala em dezembro de 2016. Na presença dos membros da Lava Jato e do juiz Sergio Moro”.
“O magistrado [Sergio Moro] gerenciava os efeitos da exposição midiática dos acusados. A opção por provocar e não esperar ser provado garantia que o juiz estivesse na dianteira de uma narrativa que culminaria na consagração de um verdadeiro projeto de poder que passava pela deslegitimação política do Partido dos Trabalhadores, em especial o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a fim de afastá-lo do jogo eleitoral”.