Estado da Paraíba tem fila de espera por UTI e cidade que poderia desafogar o sistema de saúde é denunciada por não ceder leitos. Nas últimas 24 horas, Campina Grande anunciou 52 leitos vazios
O Ministério Público Federal notificou a cidade de Campina Grande (PB) por atuar de forma não coordenada com a Secretaria de Saúde do Estado da Paraíba no enfrentamento à pandemia.
A principal denúncia aponta que Campina estaria se recusando a ceder seus leitos de enfermaria e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes de outras localidades da Paraíba.
Os sistemas público e privado de saúde do estado entraram em colapso devido ao avanço da Covid-19 e, segundo os dados oficiais, Campina Grande é o município que apresenta mais vagas disponíveis nos hospitais.
O último Boletim divulgado pela Secretaria de Saúde da Paraíba neste domingo (21/3) mostra que Campina tem 68% dos leitos de UTI ocupados, enquanto na capital João Pessoa a taxa de ocupação é de 92%. No sertão o cenário é ainda mais crítico, com lotação de 98%.
A Prefeitura de Campina Grande confirma a alta disponibilidade de vagas. Em publicação também no domingo, o município revelou ter 52 leitos de UTI e 136 de enfermaria vagos.
(continua após as publicações)
“Nós acreditamos que, nesta situação de emergência, a coordenação dos leitos precisa ser estadual. Ou seja, os pacientes em uma fila de espera única. Caso contrário, estaríamos vivendo em um ambiente de ‘cada um por si’, e não é isso que a gente deseja”, afirmou um profissional de saúde em condição de anonimato.
“Estamos com até 50 pacientes por dia na fila aguardando vaga de UTI. Se a própria Prefeitura de Campina divulga que há dezenas de leitos disponíveis, por que estão segurando essas vagas? Não há mais o que esperar”, acrescentou.
Ação política
A despeito do apelo de profissionais de saúde da Paraíba por uma coordenação estadual no combate à pandemia, divergências políticas estariam na origem da ruptura de Campina Grande.
Com cerca de 410 mil habitantes, Campina é a segunda maior cidade do estado e o atual prefeito, Bruno Cunha Lima (PSD), é adversário político do governador João Azevedo (Cidadania).
No mês passado, com o país já sofrendo os efeitos da segunda onda do coronavírus, Bruno cumpriu agenda com Jair Bolsonaro e posou ao lado do presidente sem máscara.
Se na gestão dos leitos de UTI Bruno quer Campina isolada, o mesmo não se repete quando o prefeito trata da vacinação. Cobrado pela população sobre a aplicação dos imunizantes, ele se esquivou: “Não é o município que define os grupos a serem vacinados. Os grupos são designados através das notas técnicas do Ministério da Saúde e da Secretaria de Estado da Saúde”.
As contradições de Bruno não passaram despercebidas, e o gestor tem recebido críticas nas redes. “Bruno afastou Campina da responsabilidade de ceder leito para paciente de João Pessoa, mas quando o calo lhe aperta ele cita o estado como coordenador das ações sanitárias na pandemia. Muito conveniente”, criticou um internauta.
“Quando diferenças políticas guiam as atitudes dos governantes em uma crise sanitária deste porte, a vida humana acaba sempre colocada em segundo plano”, observou um médico em um grupo de profissionais de Saúde da PB.
“Aconteceu na esfera nacional, quando Bolsonaro rejeitou a Coronavac porque a vacina era insistência do adversário João Doria. Já imaginaram se hoje estivéssemos sem a Coronavac? Se já está caótico com ela, seria ainda pior sem”, afirmou o médico.
A Paraíba tem 246.382 casos confirmados de contaminação pelo novo coronavírus e um total de 5.243 óbitos. O estado é o líder do Nordeste no ranking da vacinação e ocupa o 6º lugar nacional na aplicação das doses.