Ludhmila relata ameaças de morte e recusa convite de Bolsonaro
Ludhmila recusa convite para o Ministério da Saúde e revela que chegou a ser ameaçada por apoiadores do presidente. Extremistas tentaram invadir hotel onde a médica estava hospedada
A médica Ludhmila Hajjar, que foi cotada por Jair Bolsonaro (sem partido) para assumir o Ministério da Saúde, afirmou que sofreu ataques de apoiadores do presidente da República. Em entrevista à CNN, ela relatou tentativas de invasão ao hotel onde ela estava e ameaças de mortes por parte de bolsonaristas.
“Eu recebi ataques, tentativa de invasão no hotel que eu estava, ameaças de morte, fui agredida com áudios e vídeos falsos, espalhados por milhares de pessoas. Mas estou firme e forte aqui. Hoje volto para São Paulo para continuar a minha missão, que é ser médica. Estou à disposição do meu país e vou continuar atendendo pessoas da direita e da esquerda”, declarou.
“Esse radicalismo, essa maldade utilizada em redes sociais, isso hoje é um atraso para o Brasil e vidas estão indo embora por causa disso, porque se criou uma narrativa baseada em algo que não tem lógica, não tem fundamento […] Sei que isso passa, que são pessoas radicais. Tive meu celular publicado em vários grupos de WhatsApp, duas tentativas de entrada no meu quarto do hotel durante a noite – coisas absurdas, indescritíveis, inimagináveis”.
A médica cardiologista admitiu ter recusado o convite para ocupar o cargo por divergências com Jair Bolsonaro. Ela já havia se manifestado contra o chamado “tratamento precoce”, ou seja, uso de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a covid, incentivados pelo presidente. Além disso, apoiava o isolamento social e a vacinação em massa.
Para assumir o cargo, é preciso rezar a cartilha do presidente — o que é perigoso para qualquer médico minimamente sério, uma vez que as crenças de Bolsonaro são desprovidas de base científica.
Após o nome de Ludhmila Hajjar começar a ser ventilado para substituir Pazuello, apoiadores de Bolsonaro resgataram uma live que a médica fez com a ex-presidente Dilma Rousseff. Ludhmila integrou a equipe que tratou a petista, quando foi acometida por um câncer.
À CNN, a cardiologista disse que nunca declarou posição política. “A missão do médico é cuidar, confortar, salvar a quem quer que seja e isso muito me honra”, afirmou. Ludhmila tratou de Arthur Lira, Eduardo Pazuello e Fabio Farias quando todos tiveram covid-19.
“Talvez, para pessoas radicais é algo que me diminua. Pelo contrário, se eu fizesse isso, eu estaria negando o juramento que eu fiz no dia que me formei na Universidade de Brasília. Continuarei cuidando da direita e da esquerda porque eu não tenho medo”, disse.