"Ela era saudável e não teve sintomas. Se importem", desabafa pai de menina de 13 anos
Pai de menina de 13 anos morta por síndrome pós-Covid alerta que filha não teve sintomas: "Era feliz e saudável. Se ela não tivesse contraído o coronavírus, não teria morrido. Não sabíamos que existia a síndrome. Se importem, porque há cada vez mais casos sobre crianças"
O motorista Paulo César dos Santos, de 50 anos, perdeu a filha Ana Clara Macedo Santos, de 13 anos, no dia 24 de fevereiro. A menina faleceu em Campinas (SP).
A menina foi acometida pela Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica pós-Covid-19, uma condição rara que pode atingir crianças e jovens de até 19 anos.
De acordo com Paulo, sua esposa e seus dois outros filhos pegaram coronavírus entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021 e fizeram exames. A única exceção foi a caçula, Ana Clara Macedo Santos, que não apresentou sintomas. A família adotou os protocolos e se recuperou, sem gravidade.
Em meados de fevereiro, no entanto, após ter cólicas que não cessavam, Ana foi hospitalizada e descobriu, por exame de sangue, que teve contato com o vírus. Ela morreu em 24 de fevereiro com falência em múltiplos órgãos.
“Era uma criança saudável, uma criança espontânea. Se ela não tivesse contraído o coronavírus, ela não teria morrido. Não sabíamos que existia a síndrome, ficamos sabendo pelo hospital. Se importem, porque infelizmente está aumentando os casos sobre crianças”, desabafou o pai.
De acordo com o Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) de Campinas, a síndrome caracteriza-se por inflamações da parede dos vasos sanguíneos de órgãos como rins, articulações, sistema nervoso central e vias respiratórias.
“Não culpo a volta às aulas”
Ana era aluna do 8° ano da Escola Estadual Escritora Rachel de Queiroz, que fica no bairro Jardim Yeda. Segundo o pai, ela foi para a escola apenas um dia em fevereiro. “Por causa do revezamento que estavam fazendo. No início ia ser uma vez a cada 15 dias.”, afirma ele.
“Não tem como a gente precisar como foi a infecção por Covid. A gente não sabe dizer da onde. Segundo as informações médicas, na data do dia 24 [de fevereiro], ela podia ter contraído sete dias antes ou até seis meses atrás. Não culpei a volta às aulas. De repente, ela foi a transmissora para nós.”, explica o pai.
Sobre a possibilidade de a adolescente ter contraído o vírus na instituição de ensino, a Secretaria Estadual de Educação afirmou, em nota, que “não há qualquer indício de contaminação, tanto é que não houve nenhum caso confirmado de Covid-19”.
O atestado de óbito de Ana Clara cita, além da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica pós-Covid-19, infecção por coronavírus e obesidade.
A família, no entanto, ressalta que a menina não tinha outras doenças. Ana Clara também praticava atividades físicas, como balé.
“Não tinha problema respiratório, nem pressão alta, coisas que podem vir com obesidade. Era uma criança saudável. Segundo a Vigilância Sanitária, foi um resultado da Covid. Ela não tinha doença nenhuma”, diz o pai.
Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica
A síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P) é uma condição inflamatória rara, com amplo espectro de sinais e sintomas, que afeta os vasos sanguíneos (veias e artérias) de crianças e adolescentes.
Segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos, a doença se manifesta entre 0 e 19 anos e está associada à infecção aguda pelo vírus Sars-CoV-2, causador da covid-19.
De acordo com os estudos em andamento, a SIM-P representa uma resposta imune hiperativa mediada por anticorpos. Ela é responsável por inflamação intensa dos vasos sanguíneos (vasculite), por complicações cardíacas e intestinais, insuficiência renal, comprometimento cerebral, da pele e dos olhos.
O quadro não se instala tão logo as crianças saudáveis são infectadas pelo novo coronavírus, mas três ou quatro semanas depois. Esse intervalo entre as apresentações clínicas permite supor que se trata de uma síndrome pós-infecciosa capaz de comprometer vários órgãos e sistemas do organismo, especialmente o coração, o sistema nervoso central e o sistema digestório.
Levantamento produzido pelo jornal britânico “The Guardian” revelou alguns dados que ainda demandam estudos complementares. Por exemplo: a maioria das crianças afetadas pela síndrome são negras, hispânicas ou asiáticas ou, então, pertencem a minorias étnicas e socioeconômicas.
Outra constatação é que os meninos são mais afetados pela condição do que as meninas e ainda não se sabe por que algumas crianças são infectadas e outras, nas mesmas condições, não são.
Até o momento, a causa da síndrome não foi totalmente esclarecida. No entanto, as pesquisas em andamento sugerem que a SIM-P é desencadeada por uma reação imunológica exagerada à infecção pelo novo coronavírus.
Por enquanto, o que se sabe é que as manifestações clínicas começam a aparecer algumas semanas depois de a criança ter sido infectada e não importa se desenvolveu um quadro leve, grave ou assintomático da covid-19.