Ministério da Saúde admite que Brasil chegará a 3 mil mortes por dia
Após o neurocientista e professor da Universidade de Duke (EUA) Miguel Nicolelis afirmar que o Brasil pode cruzar a marca de 3 mil mortes diárias por Covid, o Ministério da Saúde admitiu que o cenário ainda mais trágico pode ser alcançado nas próximas semanas
O Ministério da Saúde antecipa que, nas próximas duas semanas, o Brasil viverá o pior momento da pandemia do coronavírus. Segundo informações do Valor, os auxiliares mais próximos ao ministro Eduardo Pazuello acreditam que serão 3 mil mortes por dia por covid-19 no país.
A previsão de recorde no número de mortes é a soma de diversos fatores, como as aglomerações de fim de ano e do carnaval, o crescimento na transmissibilidade do vírus, a queda dos índices de isolamento social, as novas cepas e o colapso hospitalar em diversos estados.
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Ao mesmo tempo, a vacinação acontece a passos lentos. Até o momento, 7,6 milhões de brasileiros receberam pelo menos a primeira dose do imunizante, mas o país não tem doses suficientes para que o número cresça substancialmente.
Segundo o Valor, o Ministério da Saúde olha com cautela para a região Sul do país. No Rio Grande do Sul a ocupação de leitos de UTI ficou em 100% ao longo da semana. Já Santa Catarina está transferido pacientes com covid-19 para o Espírito Santo.
São Paulo, na avaliação do ministro, tem conseguido evitar o pior porque tem a maior rede hospitalar do país. Mas, se houver um colapso na saúde paulista, a situação do Brasil pode ficar ainda pior.
Mesmo com a avaliação pessimista da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) continua menosprezando a crise sanitária vivida pelos brasileiros. “Tem idiota que diz ‘vai comprar vacina’. Só se for na casa da tua mãe. Não tem para vender no mundo”, queixou-se o presidente.
Na casa da mãe dos “idiotas” não acha vacina mesmo. Mas a mãe dele ta vacinada. Ah, e a Pfizer tá desde agosto tentando te vender vacina, incompetente. pic.twitter.com/OZjvL9MUxS
— Bruno Gagliasso – Pai de 3 (@brunogagliasso) March 4, 2021
Bolsonaro disse na última quinta-feira, 4, que “nós temos que enfrentar os nossos problemas, chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até quando? Temos de enfrentar os problemas. Respeitar, obviamente, os mais idosos, aqueles que têm doenças, comorbidades, mas onde vai parar o Brasil se nós pararmos?”
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Apesar de o Ministério da Saúde saber da situação e esperar um aumento expressivo no número de casos e mortes, a avaliação da pasta é que não há muito o que fazer, além de estimular que os estados reabram hospitais de campanha. O governo federal pensa em reabrir esse tipo de instalação.
Sobre a vacinação, Pazuello espera que a vacinação acelere a partir deste mês, com o aumento de produção de vacinas por parte do Instituto Butantan e da Fiocruz. As instituições produziriam 1,4 milhão de doses de imunizantes a cada dia no mês de abril. Até o fim de junho, o ministro espera vacinar 70 milhões de brasileiros. Além das doses produzidas no Brasil, o Pazuello anunciou que comprará doses da Pfizer e da Janssen.
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Em entrevista nesta semana ao ElPaís, o médico, neurocientista e professor catedrático da Universidade de Duke (EUA) Miguel Nicolelis afirmou que a possibilidade do País ter mais de três mil óbitos diários passou a ser real.
“Nós podemos ter a maior catástrofe humanitária do século 21 em nossas mãos. A possibilidade de cruzar 2.000 óbitos diários nos próximos dias é absolutamente real. A possibilidade de cruzarmos 3.000 mortes diárias nas próximas semanas passou a ser real. Se você tiver 2.000 óbitos por dia em 90 dias, ou 3.000 óbitos por 90 dias, estamos falando de 180 mil a 270 mil pessoas mortas em três meses. Nós dobraríamos o número de óbitos. Isso já é um genocídio, só que ninguém ainda usou a palavra. O que são 250 mil mortes sendo que a vasta maioria poderia ter sido evitada?”, afirmou.
Vejam a evolução da taxa de ocupação de leitos de UTI desde julho do ano passado. https://t.co/YQ5mE3sC71
— Miguel Nicolelis (@MiguelNicolelis) March 4, 2021
O Brasil, até esta sexta-feira 5, conta mais de 260 mil mortos por Covid-19.