Menos de 24 horas após a decisão que tornou Lula elegível para 2022, Miriam Leitão, Vera Magalhães e diversos veículos da grande imprensa voltaram suas artilharias contra o ex-presidente
Veículos tradicionais de imprensa e jornalistas populares já prepararam seus discursos contra a possibilidade de Lula ser candidato à presidência em 2022 após decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, anular todas as condenações contra o ex-presidente e restituir seus direitos políticos.
A Folha de S.Paulo fez o seguinte alerta, em reportagem de Eduardo Cucolo: “Frustração com governo e risco PT afetam cenário econômico, dizem economistas”.
Leia trecho do texto de Cucolo abaixo:
A possibilidade de um segundo turno entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Lula nas eleições de 2022 é vista como um fator adicional de incerteza em relação ao cenário econômico brasileiro e que deve ser colocado no preço de ativos, como o dólar, e postergar decisões de investimento.
Com a volta de Lula ao debate eleitoral, a desvalorização dos ativos brasileiros passa a refletir a frustração com o atual governo somada ao risco do retorno à política econômica dos governos petistas. Essa piora poderia inclusive intensificar o ritmo da alta dos juros esperada para este ano.
A jornalista Míriam Leitão, porta-voz da Globo, também destacou o impacto da decisão de Fachin na economia – mais especificamente na queda da bolsa.
“A decisão do ministro Edson Fachin, do STF, de anular todas as condenações do ex-presidente Lula derrubou o índice Ibovespa e pressionou o dólar. Com Lula elegível para as eleições do ano que vem, o Ibovespa caía 4%, e o dólar subia 1,7%, por volta das 17h20″, diz Míriam.
Seguindo a mesma linha, o portal UOL, do Grupo Folha, afirmou que a “bolsa sofre” com a decisão sobre Lula.
“(…) é provável que Bolsa e dólar continuem sofrendo, o mercado vai repensar a situação e investidores estrangeiros devem fugir. Os efeitos devem persistir porque a decisão acrescenta mais um ingrediente de incerteza em um ambiente já contaminado por insegurança. Hoje já há dúvidas relacionadas à pandemia de covid-19 e à situação financeira do governo federal”, diz texto de Giulia Fontes no UOL.
Já a Rede Globo, que rompeu a “lei do ostracismo” a Lula em seus telejornais, dedicou 25 minutos do Jornal Nacional, seu principal telejornal, para tentar convencer o telespectador de que a decisão do ministro Edson Fachin, do STF, não significa que o ex-presidente é inocente.
O telejornal sugeriu ainda a possibilidade da Justiça Federal do Distrito Federal vir a condenar Lula com base nas investigações de Curitiba.
A jornalista Vera Magalhães, conhecida por sua ferrenha dedicação em endeusar o juiz Sergio Moro e a Operação Lava Jato, deixou evidente sua chateação com a decisão de Fachin.
Ela optou por criticar o STF, dizer que essa decisão vem fora de hora e – o pior dos piores – terá influência sobre a corrida eleitoral de 2022.
Por fim, o Estadão, da família Mesquita, dedicou um longo editorial para culpar Bolsonaro pela sobrevivência política e ascensão de Lula.
O texto não contesta a decisão do ministro Fachin de anular as condenações contra Lula e restituir seus direitos políticos. Tampouco defende o legado nefasto deixado pela operação comandada por Moro e os procuradores de Curitiba.
A questão é culpar o celerado que o jornal ajudou eleger presidente da República. Bolsonaro, segundo o Estadão, não faz direito o serviço que se esperava dele. Leia trechos:
Jair Bolsonaro está conseguindo fazer o que parecia impossível. Ao ignorar suas responsabilidades e debochar continuamente dos problemas do País e da saúde dos brasileiros, está abrindo caminho para o retorno político do sr. Luiz Inácio Lula da Silva, seja por meio de algum preposto, seja pessoalmente, agora que o ministro Edson Fachin anulou todas as condenações do demiurgo de Garanhuns – e na hipótese de que o Supremo mantenha essa nefasta sentença. Bolsonaro, por palavras e omissões, ajudou a recriar o monstrengo que já atormentou em demasia este país.
O assunto é da maior gravidade, pois traz de volta ao cenário político um grande perigo para o País. Aquele que foi eleito por ser o mais antipetista dos candidatos não apenas descumpre suas promessas de campanha, como está produzindo a perfeita antítese das expectativas do seu eleitorado: o ressurgimento do fantasma do lulopetismo.
Não se trata de mera hipótese ou recurso retórico. Recente pesquisa de opinião feita pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) constatou que, nas atuais circunstâncias, o líder político com maior potencial de voto é o sr. Luiz Inácio Lula da Silva. Nada mais nada menos que metade dos entrevistados revelou a possibilidade de votar em Lula.
(…)
A pesquisa revela o que o governo de Jair Bolsonaro tem sido capaz de despertar no ânimo dos brasileiros. Tal é o descalabro da atual administração federal que metade da população já não vê como impossível votar naquele cujo governo produziu os maiores escândalos de corrupção da história do País.
Pode parecer ironia, mas Jair Bolsonaro está fazendo com que parte considerável da população se esqueça dos males e prejuízos causados pelo mensalão e petrolão e já não exclua do horizonte o voto em Lula – ou no seu preposto. Aquele que prometeu eliminar o lulopetismo é quem está agora lhe dando uma inesperada e perigosa sobrevida.
Há quem pense que, por estar inelegível em razão da condenação criminal, o sr. Luiz Inácio Lula da Silva não representaria perigo ao País. Não seria, assim, preciso preocupar-se com o líder petista. Nada mais distante da realidade. Mesmo quando esteve impedido de se eleger, Lula foi capaz de produzir sérios estragos por meio de seus testas de ferro. Basta pensar no governo de Dilma Rousseff e nas eleições de 2018. Fernando Haddad chegou ao segundo turno por obra e graça daquele que, na ocasião, estava na carceragem da Polícia Federal de Curitiba.
Não há como amenizar a gravidade da situação criada pelo presidente Jair Bolsonaro. É um tremendo retrocesso para o País o fato de que parcela relevante da população, estupefata com os contínuos desastres produzidos pelo atual governo federal, volte a considerar o PT como um voto possível. É como se o despautério do tempo presente levasse a esquecer ou, ao menos, a relevar o aparelhamento político-ideológico da máquina estatal, os desvios da Petrobrás, a interferência na autonomia do Congresso, a omissão nas reformas, o abuso do poder político, os privilégios às corporações.
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