Investigadores encontraram contradições nos depoimentos da mãe e do padrasto do menino de 4 anos, morto em circunstâncias não esclarecidas. Casal demorou a ser ouvido e teve quase 10 dias para combinar depoimento
A morte de Henry Borel continua sendo um mistério para a polícia, mas os investigadores detectaram duas contradições nos depoimentos da professora Monique Almeira e do vereador Dr. Jairinho, mãe e padrasto da criança.
A primeira informação que não bate é a respeito de um barulho que Monique relatou para a equipe médica do Hospital Barra Dor ao explicar a situação do filho.
A mãe disse ter acordado com esse suposto barulho vindo do quarto da criança e, ao chegar no local, encontrou o menino caído no chão. Essa versão consta no Boletim de Atendimento Médico (BAM) registrado no dia 8 de março.
Além dos médicos, o pai de Henry, Leniel Borel, disse ter ouvido de Monique e de Jairinho a versão de que teriam ouvido um barulho. “Cheguei no hospital e vi o médico em cima do coração do menino perguntando para mãe o que tinha acontecido. Falaram que houve um barulho, foram ver lá o que estava acontecendo e quando chegaram lá o menino estava revirando o olho com dificuldade de respirar”, contou o pai de Henry.
No entanto, a versão do barulho não foi mencionada nem por Monique nem por Jairinho durante as 12 horas que permaneceram na delegacia na última quarta-feira (17).
Se no hospital a mãe cita que um barulho no quarto do menino a acordou, no segundo relato Monique afirmou que acordou por volta das 3h30 com a TV ligada e foi ver o filho — quando o encontrou desacordado. Monique e Jairinho estariam assistindo uma série no quarto de hóspedes, enquanto Henry dormia na suíte do casal.
Em seu segundo relato, Jairinho também não cita barulho algum. Ele diz que estava dormindo em sono profundo, à base de remédios, quando Monique o acordou para dizer que Henry não respirava.
Vale lembrar que o casal teve bastante tempo com os advogados para alinhar o depoimento, uma vez que só foram ouvidos nove dias após a morte do menino. A demora nas investigações causou estranheza, mas os policiais afirmaram que não colheram os depoimentos antes porque “Monique estava sob efeitos de medicamentos”.
Empregada doméstica
A segunda contradição envolve a empregada doméstica do casal. Monique disse, no hospital, que um policial civil pediu para ela voltar para casa, já que a perícia iria fotografar o local. Monique afirmou que não contou à empregada sobre a morte de Henry.
Quando os peritos chegaram no apartamento de Monique e Jairinho, no início da tarde de 8 de março, a funcionária doméstica do casal já tinha feito a limpeza do lugar.
A versão contada por Jairinho na delegacia é diferente. O vereador afirma que, ao voltar para o apartamento às 10h do dia 8 de março, ele se deparou com Monique, com a empregada doméstica e com uma de suas assessoras.
Perguntado pelos investigadores se Monique comentou sobre a morte de Henry com a empregada doméstica, o padrasto do menino respondeu que sim, que ela contou o que havia acontecido.
“Caiu da cama”
Na delegacia, os investigadores questionaram Monique sobre o que ela achava das graves lesões apresentadas no corpo do filho. A mãe afirmou acreditar que o menino acordou, ficou em pé sobre a cama, se desequilibrou e caiu no chão. A tese, porém, é contestada por peritos.
“A lesão está em áreas diversas do corpo. Uma queda não proporcionaria e não há outras lesões. Acho difícil colidir cabeça, fígado, pulmão, rim, abdômen. A não ser que fosse numa queda de grande altura, aí sim você encontraria isso, mas você está relatando que as informações falam em queda em casa, na cama, acho muito improvável”, afirmou Talvane de Moraes, perito legista.
“Lesões graves assim só são observadas em acidentes de trânsito, onde há muito mais energia. Isso seria impossível em uma queda de cama, por exemplo, por mais alta que a cama fosse. Analisando o laudo, podemos afirmar que a criança foi agredida fortemente”, observa o perito Carlos Durão.
“Essa criança foi espancada de maneira violenta, pelo laudo médico legal a criança tem sinais de violência física severa que atingiu a cabeça, pulmão, abdômen, rompimento de fígado, rim e várias equimoses. É um negócio de uma gravidade muito grande”, disse Nelson Massini, professor titular de Medicina Legal da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).
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O laudo pericial constatou múltiplos hematomas no abdômen e nos membros superiores do menino; infiltração hemorrágica na região frontal do crânio, na região parietal direita e occipital, ou seja, na parte da frente, lateral e posterior da cabeça; edemas no encéfalo; grande quantidade de sangue no abdômen; contusão no rim à direita; trauma com contusão pulmonar; laceração hepática (no fígado); e hemorragia retroperitoneal.
Neste sábado (20), agentes da delegacia da Barra intimaram as testemunhas que vão prestar depoimento sobre a morte de Henry Borel. Foram intimadas a empregada, uma babá do menino, os médicos que fizeram o primeiro atendimento e o legista que assinou o laudo de necrópsia.
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