VÍDEO: PM que abriu fogo contra o Bope é morto na Bahia
Com rosto pintado de verde e amarelo, PM falou em "honra" e "desonra" dos policiais enquanto fazia disparos de fuzil
Agência Estado
Um homem vestido com roupas militares, usando colete e com uma arma de cano longo está aparentemente surtado e atirando a esmo, em frente ao Farol da Barra, em Salvador (BA). pic.twitter.com/kNgQauAk2N
— Flávio Costa (@flaviocostaf) March 28, 2021
Um soldado da PM (Polícia Militar) mobilizou uma equipe do Bope (Batalhão de Operações Especiais) hoje à tarde ao caminhar em torno do Farol da Barra, em Salvador, e atirar para o alto. Ele foi baleado hoje à noite, após atirar contra policiais que participavam da ação. Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública) baiana, ele teria tido um “surto psicótico”.
Após 3h30 de negociação, ele disparou um fuzil contra guarnições do Bope. Aproximadamente às 18h35, o soldado verbalizou que havia chegado o momento, fez a contagem regressiva e iniciou os disparos. Após pelo menos dez tiros, o soldado foi neutralizado e socorrido para o Hospital Geral do Estado.
Vídeos mostram o soldado fardado e fazendo pelo menos um disparo com arma de fogo bem próximo à entrada do farol, ao lado de um carro estacionado com a porta aberta e uma grade derrubada, que provavelmente protegia o local. Também é possível ver o momento exato em que o soldado efetua disparos em direção às viaturas, caindo em seguida, ao ser baleado. A SSP confirmou que ele efetuou disparos com arma de fogo para cima.
Nas imagens, é possível ouvir uma frase repetida mais de uma vez pelo soldado, que não teve seu nome revelado e tinha o rosto pintado de verde e amarelo.
“Os nossos objetivos primordiais são preservar vidas e aplicar a lei. Buscamos, utilizando técnicas internacionais de negociação, impedir um confronto, mas o militar atacou as nossas equipes. Além de colocar em risco os militares, estávamos em uma área residencial, expondo também os moradores”, declarou o comandante do Bope, major Clédson Conceição.
A ocorrência se iniciou às 14h, quando o militar chegou armado com fuzil e pistola na Barra. Imediatamente ele iniciou disparos de fuzil para o alto. “Comunidade, venham testemunhar a honra, ou a desonra do policial militar do estado da Bahia”, gritou o homem, antes e depois de efetuar um disparo em frente ao Farol da Barra.
O local foi isolado e pessoas saíram correndo nas imediações quando começou a ação do soldado. Além do Bope, policiais do CPR-Atlântico (Comando de Policiamento Regional) também foram mobilizados para a ocorrência. Não há informações de feridos.
A Bahia vive atualmente um lockdown para tentar conter o avanço da pandemia de covid-19. As medidas restritivas foram prorrogadas anteontem (26) até 5 de abril, e incluem um toque de recolher entre 18h e 5h.
A morte do soldado teve repercussão entre políticos, sendo que a manifestação da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) no Twitter gerou repúdio de opositores.
A presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) escreveu uma mensagem na qual dizia que Wesley Soares Góes “foi abatido” porque “disse não às ordens de Rui Costa (governador da Bahia)”, sugerindo que o soldado havia se recusado a fiscalizar quem descumprisse as medidas de restrição impostas na cidade. A investigação ainda está em curso, mas até o momento não está claro a motivação de Wesley para o ato.
Mais tarde, Bia Kicis apagou o tuíte e justificou, dizendo que aguardará investigação para se pronunciar novamente. Porém, outros deputados como Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) repetiram o teor do discurso da deputada, atribuindo ao soldado uma frase com conotação política que teria sido dita por ele durante o incidente.
Nesta madrugada fui informada, de q o PM morto, em surto, havia atirado p/ o alto e foi baleado por https://t.co/haFx4dBvFR redes se comoveram e eu tb.Hoje cedo removi o post p/ aguardarmos as investigações. Inclusive diante do reconhecimento da fundamental hierarquia militar.
— Bia Kicis (@Biakicis) March 29, 2021
A extremista Bia Kicis, presidente da CCJ, que já discursou a favor da intervenção militar dentro do parlamento, agora estimula um motim da PM na Bahia. Mais uma vez utiliza o cargo p/ pregar a violência contra o Estado de Direito e a Democracia. É um crime contra a Constituição.
— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) March 29, 2021