Biden vai taxar grandes fortunas para lançar 'Bolsa Família' nos EUA
"É tempo de os 1% mais ricos pagarem sua parte". Joe Biden anuncia plano de quase US$ 2 trilhões para expandir as oportunidades educacionais e de cuidado infantil para as famílias americanas num projeto que tem paralelo com o Bolsa Família brasileiro. Programa será financiado por tributo sobre as grandes fortunas
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou uma série de medidas para combater as desigualdades sociais e impulsionar o desenvolvimento em discurso realizado numa sessão conjunta do Congresso nesta quarta-feira (28).
Em um projeto que assemelharia ao ‘Bolsa Família’, Biden apresentou um plano de 1,8 trilhão de dólares voltado às famílias, para investimentos em educação, com foco na pré-escola e na assistência a crianças, entre outros pontos. O programa foi inicialmente chamado de ‘Plano de Famílias Americanas’.
De acordo com plano, a educação infantil e a faculdade comunitária devem passar a ficar gratuitos em todo o território americano. O projeto também estenderia o crédito do imposto infantil até 2025 e tornaria permanente uma expansão do crédito do imposto de renda para adultos sem filhos com baixa renda. O governo também pretende fornecer apoio direto às famílias para creches, finanças para formação de professores e criação de um programa nacional de licença familiar remunerada.
O discurso foi também marcado pela defesa da classe média, com propostas econômicas para ajudar os mais afetados pela crise sanitária e aumentar os impostos dos mais ricos. “É tempo de as empresas americanas e de os 1% mais ricos começarem a pagar a sua parte”, afirmou.
“Wall Street não construiu este país. A classe média construiu este país, e os sindicatos construíram a classe média”, disse Biden. “Vinte milhões de americanos perderam o emprego durante a pandemia”, recordou, destacando que, “ao mesmo tempo, cerca de 650 bilionários viram a sua riqueza aumentar mais de 1 trilhão de dólares”.
Biden afirmou que os Estados Unidos vão crescer este ano ao maior ritmo em quatro décadas e prometeu mais empregos.
O democrata acrescentou que, durante os primeiros cem dias do mandato, foram criados mais de 1,3 milhão de postos de trabalho, “mais do que qualquer presidente” no mesmo período, e defendeu o seu programa de criação de emprego, apresentado no início do mês, que representa um investimento de 2,3 trilhões de dólares em infraestruturas. “É o maior plano de criação de emprego desde a Segunda Guerra Mundial”, afirmou.
Covid-19
“Depois de apenas 100 dias, posso dizer à nação: os EUA estão se movendo de novo, transformando perigo em possibilidade, crise em oportunidade, revés em força”, afirmou no plenário da Câmara.
O presidente disse que herdou uma nação em crise, com a pior pandemia do século, a pior crise econômica desde a Grande Depressão e o “pior ataque à nossa democracia desde a Guerra Civil”, numa referência à invasão do Capitólio.
Ao lembrar que herdou o combate à covid-19 quando iniciou o mandato, em 20 de janeiro, Biden disse que a campanha de vacinação é um dos maiores sucessos logísticos na história do país. Ele lembrou que havia prometido 100 milhões de doses de vacinas aplicadas em 100 dias e destacou que acabaram sendo 220 milhões.
“Mais da metade dos adultos receberam pelo menos uma dose”, disse Biden, acrescentando que as mortes de idosos recuaram 80% desde janeiro. O presidente lembrou que todos os adultos com mais de 16 anos já podem se vacinar. “Então vá já tomar a vacina!”, afirmou.
Mudanças climáticas e racismo
Biden também argumentou que as mudanças climáticas são uma oportunidade. “Quando eu penso em mudanças climáticas em penso em empregos. Não há nenhuma razão para que os trabalhadores americanos não possam liderar o mundo na produção de veículos e baterias elétricas.”
A morte do afro-americano George Floyd por um policial branco também foi lembrada por Biden. Ele apelou ao Congresso para que haja avanços contra o racismo e a violência policial. “Todos nós vimos o joelho da injustiça no pescoço da América negra”, afirmou.
O presidente disse que chegou a hora de avançar na questão e pediu ao Congresso que lhe envie um projeto de reforma da polícia com o nome de Floyd até o aniversário da morte, em 25 de maio.
Momento histórico
O discurso foi marcado por um momento histórico: pela primeira vez um presidente dos Estados Unidos falou em frente a duas mulheres, a vice Kamala Harris e a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi.