Eu sei, eu sei. A acusação é tão rasa e pueril que até parece um argumento bolsonarista. Como quando o Paulo Guedes ofendeu nesse nível a primeira-dama francesa.
Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político
Eu sei, eu sei. A acusação é tão rasa e pueril que até parece um argumento bolsonarista. Como quando o Paulo Guedes ofendeu nesse nível a primeira-dama francesa.
É que essa ideia me cortou os pensamentos como se fosse uma bolinha de papel travessando a sala de aula atirada por um ainda imaturo estudante de sexto ano: o Bolsonaro é muito feio!
Não vou entrar nos méritos de o que torna ele com essa característica. Se ele quer usar aquele cabelinho de mamãe-te-penteia, é uma opção pessoal. Também não posso lhe recriminar a barriga avantajada e desengonçada (logo eu, um pançudo sem-solução).
Na verdade, Bolsonaro, apesar de ter histórico de atleta (ao que gracejam, foi campeão nacional de fuga de debates), aparenta desleixo.
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Só a título de comparação, vou citar um exemplo muito despretensiosamente: Lula. O ex-presidente (por enquanto) é quase uma década mais velho que o atual presidente (por enquanto). Além disso, sofreu com a perda de duas esposas e, me arrepio pensar, enterrou um neto. A morte da segunda esposa, ele diz, muito foi por causa de desgosto com as injustiças que vinha sofrendo. Na morte do neto, estava preso. No velório do irmão, também estava preso e, por decisão da (in)Justiça, nem pode ir no velório. Uma desumanidade.
Como disse, Lula esteve preso. Por mais de 500 dias! Isso numa condenação que, agora resta comprovada, não teve o perfeito rito jurídico seguido. Isso pra dizer o mínimo.
Ele já fora perseguido e também preso pela Ditadura Militar, essa mesma que o Bolsonaro defende.
Vencido esses percalços, foi candidato a presidente mais de uma vez, em campanhas cansativas em que era atacado pela mídia. Até que venceu e ficou oito anos na presidência, em que muitos o tem como o melhor presidente que o Brasil já teve.
Como não bastasse, lutou contra um câncer.
Mesmo tendo passado tudo isso, hoje, aos 74 anos, Lula parece estar mais bonito do que nunca. Suas fotos sem camisa é de dar inveja a mim, chegado que sou numa costela engordurada. Ainda disse numa entrevista com o Reinaldo Azevedo, que dormia bem, que portanto, palavras e gracejo dele, pra delírio da mulherada, era “bom de cama”.
Mas não só isso.
É elegante. Sabe vestir-se. Mesmo não tendo bacharelado, não se furta ao hábito de leitura. Tem vocabulário. Não fala difícil, mas sabe escolher as palavras e suas respectivas entonações. Às vezes lhe escapa um palavrão, mas a “merda” está tão contextualizada no discurso, que está longe de ser verborrágica.
A beleza de alguém não está somente no topete (na ausência dele) ou numa barriga nos trinques. Na verdade, isso é secundário. A boniteza dalguém está muito mais ligada à energia que essa pessoa emana do que à pele hidratada.
Mas a energia dela passa também pela postura, pelo vestir-se, pela educação, pela simpatia, pela alegria intrínseca e verdadeira. Lula, por exemplo, de novo e de novo despretensiosamente, transmite essa paz.
Concluo: a liturgia, a legitimidade do cargo, passa pela elegância. E a falta dela nada tem a ver com simplicidade. Pelo contrário. Ao se buscar ter elegância, ser mais “bonito” (agora vou usar as aspas, pois já me fiz entender que o termo não é na sua literalidade, embora tenha consequências nela) conota que o sujeito tem noção do cargo que ocupa e de conseguinte respeito ao Brasil e aos brasileiros.
Em suma, pra governar o Brasil tem que ser bonito.
Bolsonaro é feio.
Há gente bonita que podia substituí-lo. Não vou dar exemplos aqui, sob pena deste texto ficar parcial.
*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e estadual, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha”.
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