"Conhecem essa famosa foto da Dilma? É no interrogatório na 4ª RM MG, em Juiz de Fora, em 1972. Sabem quem mais tá no banco dos réus com ela? Meu pai..."
Sofia B. H. Lisboa, em seu twitter
Conhecem essa famosa foto da Dilma? É no interrogatório na 4ª RM MG, em Juiz de Fora, em 1972. Sabem quem mais tá no banco dos réus com ela? Meu pai.
Na época, estudante do Colégio Estadual de Minas Gerais, meu pai atuava no movimento estudantil secundarista junto de Dilma e de vários outros adolescente e jovens que se articulavam contra a ditadura militar.
Alguns deles nós conhecemos nome e rosto. Eles seguiram na política e se tornaram relevantes nacionalmente. Outros, como meu pai, se não têm a família para manter a memória latente, caem no esquecimento.
Meu pai contava com o apoio do meu tio, seu irmão mais velho. Estudante de medicina da UFMG, meu tio se juntou à Organização Revolucionária Marxista Política Operária (POLOP), assumindo a direção da organização por alguns anos.
Meu tio foi taxado de terrorista e condenado à morte. Precisou viver 12 anos no exílio. Ele é o jovem da foto do canto superior esquerdo.
Nessa foto, meu tio tinha acabado de voltar do exílio e reencontrar a família. Sim, ele é o barbudo no centro da foto haha Minha avózinha é a que ta na direita, carregando os pertences dele.
Meu avó morreu antes da Anistia. Não viu o fim da ditadura militar nem o retorno do seu filho. Pai e filho não puderam se despedir um do outro e nunca mais se reencontraram.
Com o exílio do meu tio, meu pai perdeu seu maior exemplo e apoio. Mas seguiu na luta. Não estava sozinho e sabia disso. Ele e Dilma também integravam a POLOP e contavam com seus camaradas. Daí aquela primeira foto.
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A primeira vez que meu pai foi preso, ele ainda era menor de idade. Foi preso diversas outras vezes. Teve a adolescência e a juventude marcadas pela solidão, pelo medo e pela tortura.
Meu pai vem de uma família tradicionalmente cristã, mas foi se converter ao cristianismo na prisão. Encontrou seu conforto na fé. Tem quem o julgue por isso. Eu nunca julgarei alguém que foi torturado.
O cristianismo de fato o afastou da militância porque sua fé migrou para um mundo diferente e melhor pós-morte, não ainda em vida. Mas ele não se arrepende de nada que fez e sabe que foi o correto.
Em 2017, ele voltou no prédio da antiga Secretaria de Segurança (Belo Horizonte, MG) onde ele foi preso e interrogado sob tortura. Sobrevivente!
Agora, uma pessoa que foi muito importante nessa história toda: minha avózinha. Se juntou às várias mães do país que se mobilizaram exigindo informações sobre o paradeiro de seus filhos, o direito de visitá-los e, claro, a soltura deles. +
Pra terminar essa thread, vou compartilhar com vocês uma carta que ela escreveu e foi publicada em alguns jornais em 1968:
Sou filha de pai que, ainda muito jovem, foi preso e torturado. Sobrinha de um tio que foi condenado à morte e exilado. Sobrinha de outros dez tios e tias que viveram anos de horror, que testemunharam a perseguição aos seus irmãos e o sofrimento profundo de seus pais.
Sou neta de avô e avó que tiveram filhos tirados de seus braços e levados para prisões ou para fora do país. Que adoeceram com os sumiços, com a falta de notícias, com o pavor de machucarem ou assassinarem seus filhos.
Que tiraram energias da sua fé, da crença em justiça e misericórdia, para fazer o possível e o impossível para protegerem seus filhos. Tudo isso em meio a uma vida de trabalho duro e a criação de seus outros dez filhos.
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Sou neta de avô que morreu antes de ver o fim da ditadura e antes de seu filho retornar do exílio. Neta de avó que, em meio ao terror, perdeu seu companheiro de vida. Me pergunto até hoje onde o luto coube em sua vida.
Por isso, em reconhecimento e respeito à história da minha família: #DitaduraNncaMais #MemóriaVerdadeEJustiça
@mentionsnão sei se você se lembra… Ageu e Apolo Lisboa. Um beijo carinhoso! Te desejo muita força nesse dia.
Perdão, errei a tag e só percebi agora. #DitaduraNuncaMais
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