"Não falo mais com Bolsonaro. Há fatos terríveis que a imprensa ainda vai saber", diz Kajuru
Bolsonaro criticou Kajuru após vazamento de telefonema, mas senador afirma que havia acordo com o presidente para a divulgação da conversa. Kajuru agora se diz decepcionado com o mandatário: "Quero distância oceânica dele"
Sarah Teófilo, Correio Braziliense
O senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) disse nesta segunda-feira (12/4) que não pretender mais conversas com o presidente Jair Bolsonaro, se dizendo decepcionado com ele.
O parlamentar divulgou no último domingo (11) o áudio de uma conversa que teve com o mandatário na qual ele pressiona o senador a investigar também na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19 governadores e prefeitos. Ainda no áudio, ele afirmou que “tem que peticionar o Supremo (Tribunal Federal) para colocar em pauta o impeachment (de ministros do STF)”.
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Nesta segunda, a apoiadores, Bolsonaro criticou a divulgação, e Kajuru agora se diz “decepcionado” com o presidente. O senador garante que o presidente sabia que o áudio seria divulgado, e que chegou a informá-lo 20 minutos antes de publicar.
“Não tenho mais nada para conversar com ele. Quero distância oceânica dele. Me decepcionei”, disse Kajuru, afirmando que ainda defenderia o governo nas medidas corretas e criticaria quando fossem tomadas atitudes erradas.
“Combinei horas antes com Bolsonaro que iria divulgar nosso telefonema e ele aceitou. Ele certamente usou a nossa conversa para mandar um recado aos seus adversários e à sua base eleitoral. Mas agora ele diz que não sabe de nada e o filho dele, Flávio, abriu uma representação contra mim por eu ter divulgado a conversa”, observou Kajuru.
O senador pontuou que espera que o presidente “pare de falar bobagens e se preocupe com uma doença que ele não soube enfrentar”.
“Há fatos que a imprensa vai tomar conhecimento, há fatos terríveis. O presidente da Pfizer [CEO global se chama Albert Bourla] veio conversar com ele aqui no Brasil e ficou das 8h às 18h esperando, e, no final, recebeu a informação de que (Bolsonaro) não iria atendê-lo, em agosto do ano passado”.
De acordo com Kajuru, a informação foi repassada a ele por um ex-ministro que irá depor na comissão. A reportagem aguarda do Palácio do Planalto sobre a acusação. A assessoria de imprensa da Pfizer disse que a informação não procede.
Relação republicana
Kajuru afirmou que não é e nunca foi amigo do presidente, e que tem uma relação republicana com ele. O senador disse que ligou para conversar com o mandatário sobre outros assuntos, em especial para defender a sua “honra e de seus colegas” após o presidente os chamar de “canalhada” e afirmar que a intenção da CPI era apenas para “pegar” o presidente. “Eu não aceitei, porque ele jogou todo mundo no mesmo balaio”, afirmou.
O senador disse que decidiu publicar a conversa, pois, segundo ele, ninguém acreditaria se ele apenas dissesse que o presidente é favorável à CPI, desde que investigue também governadores e prefeitos. “Pensei que para ele, politicamente, seria uma gravação positiva perante a sociedade e os senadores, porque ninguém mais ia falar que ele era contra a CPI”.
O parlamentar rebateu críticas do vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), de que “age como um vassalo pedindo para ser poupado pelo presidente“. Kajuru afirmou que sempre dá as suas opiniões, e que não foi vassalo em momento algum. “Eu fiz isso porque eu quis, não porque ele mandou. Não recebo ordem dele“, frisou.