Barbárie

Novas mensagens recuperadas revelam o sofrimento de Henry Borel

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Mensagens recuperadas do celular de Monique mostram que ela sabia de tudo o que estava acontecendo com o filho. Menino vivia prostrado, tremia e vomitava ao ver Dr. Jairinho

Mãe contou a pediatra que Henry tremia e vomitava ao ver Jairinho. Na delegacia, porém, Monique afirmou que família vivia em “perfeita harmonia”

Menos de uma semana após ser informada em tempo real pela babá de que Henry Borel Medeiros, de 4 anos, estava sendo torturado pelo seu namorado, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (sem partido), Monique Medeiros relatou a uma prima pediatra que o filho sentia “medo excessivo de tudo” e, quando via o político, chegava a “vomitar e tremer”.

A troca de mensagens, recuperada no celular da professora pela Polícia Civil, consta no inquérito que apura a morte do menino. O conteúdo contradiz o depoimento oficial de Monique, que disse na delegacia que ela, o filho e Jairinho viviam em “perfeita harmonia” e que a criança nunca havia sofrido nenhum tipo de violência.

Um dia após a sessão de tortura que aconteceu no dia 12 de fevereiro, Monique e Jairinho procuraram um hospital particular, em Bangu. Na unidade, relataram que a criança estava mancando e com dores, pois tinha “caído da cama”, mas uma radiografia não mostrou dano à estrutura óssea.

No inquérito que apura a morte de Henry, Monique também utilizou a mesma desculpa de que o filho poderia ter caído da cama pouco antes de ser levado sem vida para um hospital na Barra.

Seis dias após a sessão de tortura, em 18 de fevereiro, Monique escreveu para a prima pediatra: “Henry está com medo excessivo de tudo, tem um medo intenso de perder os avós, está tendo um sofrimento significativo e prejuízos importantes nas relações sociais, influenciando no rendimento escolar e na dinâmica familiar. Disse até que queria que eu fosse pro céu pra morar com meus pais, em Bangu”.

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Na mensagem, Monique também contou que, quando o filho vê o Jairinho, “diz que está com sono, que quer dormir e não olha para ele”. Escreveu ainda: “Nunca dormiu sozinho, mas antes ficava no quarto esperando irmos ao banheiro ou levar um lanche, agora se recusa a ficar sozinho, não tem apetite, está sempre prostrado, olhando para baixo, noites inquietas com muitos pesadelos e acordando o tempo inteiro. Chora o dia todo”.

Ainda na conversa com a pediatra, Monique relatou que iniciou as consultas com uma psicóloga. Em depoimento prestado também na delegacia, a profissional havia dito que foi procurada por Monique pela recusa de Henry em ficar com ela e o padrasto.

Dezoito dias depois da conversa, às 3h50 de 8 de março, Henry deu entrada na emergência do Hospital Barra D’Or, levado por Monique e Jairinho. De acordo com as médicas que o atenderam, o menino já chegou morto à unidade e com as lesões descritas nos laudos de necropsia. Os documentos apontam hemorragia interna e laceração hepática, provocada por ação contundente, além de equimoses, hematomas, edemas e contusões não compatíveis com um acidente doméstico.

O relato de Monique é semelhante a outro, feito por uma ex-namorada do vereador na 16ª DP (Barra da Tijuca). Ela disse ter sido agredida por ele e que a filha, de 4 anos à época, ficava nervosa, chorava, vomitava ao vê-lo e pedia para ficar com a avó materna. A menina chegou a contar também que apanhava do parlamentar e que teve a cabeça afundada por ele embaixo da água de uma piscina.

Monique e Jairinho foram presos na última quinta-feira na casa de uma tia do político, em Bangu. A Polícia Civil informou que vai indiciar os dois por homicídio duplamente qualificado e tortura. A defesa do casal pediu à Justiça a libertação de seus clientes, alegando constrangimentos. Vinte testemunhas foram ouvidas até agora no inquérito, e três perícias foram feitas no apartamento do casal.

Na reprodução simulada feita no apartamento do casal, na Barra, os peritos analisaram as 23 lesões no corpo de Henry e comprovaram que elas não são compatíveis com uma queda livre. Eles fizeram várias simulações, e, em nenhuma hipótese, o menino poderia ter morrido após cair da cama ou da poltrona. Monique e Jairinho não compareceram à reconstituição da morte.

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Mensagem enviada por Monique