Sem sedativos, pacientes com Covid-19 intubados ficam acordados e amarrados no Rio. "Eles gritam para não morrer", relata enfermeira. "É realmente uma forma de tortura", lamenta médico intensivista
Sem sedativo, pacientes intubados com Covid-19 no Rio de Janeiro estão ficando acordados e são amarrados ao leito. De acordo com profissionais de saúde, o sofrimento é terrível.
“Além da superlotação dos hospitais e dos males causados pela doença, os pacientes agora sofrem com a falta de medicamentos básicos que serviriam para atenuar um pouco a situação”, observa um profissional de saúde que preferiu não ser identificado.
Uma enfermeira do Hospital Albert Schweitzer diz que os pacientes gritam para não morrer. “Na sala vermelha, os pacientes estão intubados e amarrados, estão vivenciando tudo acordado e sem sedativo, pois não tem nenhum sedativo, acabou tudo”, lamenta.
Sem a medicação, as equipes se desdobram procurando alternativas. Na unidade, há 78 pacientes internados com Covid. Outros 40 estão na emergência com outras enfermidades.
“A contenção mecânica usada sem sedativo é realmente uma forma de tortura porque o paciente está ali incomodado e está se vendo numa situação em que ele não pode nem mesmo chamar ajuda pela equipe multiprofissional”, explica o médico intensivista Áureo do Carmo Filho.
O Hospital Municipal Pedro II, também no Rio, está passando pelo mesmo cenário desesperador. O hospital atende apenas pacientes com Covid e tem 125 leitos. Uma enfermeira afirmou que em um plantão parte das mortes foi provocada pela falta de sedativos.
“Não tinha medicações, não tinha sedativos para os pacientes do CTI e então, infelizmente, eles vieram a óbito. Nós vimos, assim, os profissionais desesperados, chorando, porque não tinha o que fazer pra ajudar, né? Tá com falta de seringa, tá com falta de agulha”.
O médico Áureo do Carmo Filho afirma que a falta de sedativos acelera a morte do paciente. “Não é só a falta de sedativo que vai levar diretamente o paciente à morte. A falta de sedativo vai somar lá na balança do tratamento de coisas que estão atrapalhando e o sedativo não vai estar ajudando o paciente a economizar energia. Com certeza vai prejudicar em muito o tratamento dele, além de ser um desconforto e uma situação desumana”.
“Eu não tenho como aliviar esse sofrimento do paciente porque isso é um grande sofrimento. É só você imaginar você deitado com o tubo grosso enfiado na garganta que vai até o pulmão, que tá tentando te ajudar a respirar, e você tentando respirar junto com ele, é muito difícil para a gente ver isso, é muito triste”, acrescentou.
Covid no Brasil
O Brasil vive uma tragédia sem precedentes e é o país que mais sofre com a pandemia da Covid-19. Para se ter uma ideia do tamanho da dimensão do problema, há mais mortes por dia no Brasil do que em todos os outros 10 países mais afetados pela doença somados.
Especialistas acreditam que o cenário brasileiro foi agravado pelo uso excessivo de medicamentos que não têm eficácia contra a Covid, como a hidroxicloroquina e o ivermectina. Pacientes que fizeram uso desses remédios têm menos chances de sobrevivência quando chegam na internação.
Entusiasta desses remédios, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ajudou a distribui-los por todo o país através do que ficou conhecido como ‘kit-covid’. Em determinado momento da pandemia, a maioria dos hospitais brasileiros forneceu esses medicamentos aos pacientes sob determinação do Ministério da Saúde.
Além disso, o presidente brasileiro boicotou todas as tentativas de se fazer um isolamento social sério no Brasil — medida recomendada pelos principais sanitaristas do mundo e que se mostrou eficaz em todas as nações onde foi implantada.
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Nesta semana, o parlamentares franceses deram risada ao saberem que o Brasil ainda faz uso da cloroquina para tratar pacientes de Covid: