Após pressão de torcedores e entidades, oito dos 12 clubes envolvidos anunciam desistência do controverso projeto de criar monopólio de gigantes no futebol europeu
Deutsche Welle
A SuperLiga europeia, controverso projeto de criar um multibilionário torneio com grandes clubes de futebol do continente, começou a desmoronar apenas 48 horas após ter tido sua criação anunciada.
Até o início desta quarta-feira (21/04), de seus 12 membros fundadores, apenas quatro continuavam no projeto: Real Madrid, Barcelona, Juventus e Milan.
O movimento de retirada em bloco começou no fim da noite de terça. Após protestos de seus torcedores, da classe política e de ameaças da Uefa e da Fifa, todo os seis representantes da Inglaterra entre os 12 membros fundadores comunicaram sua desistência do projeto.
O Manchester City foi o primeiro a oficializar a desistência, seguido pelo Chelsea. Mais tarde, em uma série de comunicados emitidos à noite, Arsenal, Manchester United, Liverpool e Tottenham também confirmaram que não continuarão no projeto.
“O Liverpool pode confirmar que nossa participação na proposta de formar uma Super Liga europeia não continuará“, escreveu o atual campeão inglês em nota oficial.
Ainda na noite de terça-feira, a SuperLiga europeia anunciou ainda que iria “reconsiderar os passos apropriados para remodelar o projeto”.
“Dadas as atuais circunstâncias, devemos reconsiderar os passos mais apropriados para remodelar o projeto, sempre tendo em mente nossos objetivos de oferecer aos torcedores a melhor experiência possível e ampliar os pagamentos de solidariedade a toda a comunidade do futebol”, disse a recém-criada liga em comunicado.
Segundo o portal britânico The Athletic, o italiano Milan também teria decidido abandonar o projeto. Em declarações à agência de notícias italiana Ansa, a Inter de Milão confirmou que não tem mais interesse em participar do bloco.
O último a anunciar sua saída, nesta quarta-feira, foi o espanhol Atlético de Madri, que argumentou que as circunstâncias mudaram desde o anúncio da criação do torneio.
“Foi um erro e pedimos desculpa”
Já o Arsenal pediu desculpas pelo que agora considera um erro e informou que tomou a decisão levando em consideração a opinião de sua torcida.
“Os últimos dias nos mostraram o profundo sentimento que nossos torcedores têm por este clube. A resposta deles nos fez refletir e pensar. Nunca foi nossa intenção causar estes problemas, mas não queríamos nos afastar quando recebemos o convite para esta Super Liga, para proteger o futuro do Arsenal“, disse o clube. “Mas cometemos um erro e pedimos desculpas por isso”, completaram.
O Tottenham também se desculpou com os torcedores ao comunicar a desistência, confirmada através de uma mensagem do presidente do clube, Daniel Levy.
“Lamentamos a ansiedade e a tristeza que causamos. Acreditávamos que era importante para nosso clube estar envolvido no desenvolvimento de uma nova estrutura que garantisse o futuro financeiro da pirâmide do futebol. Acreditamos que o esporte deve rever constantemente suas competições e que os órgãos devem garantir que o esporte que todos amamos evolua. Obrigado aos torcedores por terem tido uma palavra a dizer“, declarou Levy.
Perto do fim
Sem os clubes ingleses, Inter de Milão e Atlético de Madri, a Super Liga teria apenas quatro integrantes: Barcelona, Real Madrid, Milan e Juventus.
“Não participaremos da Super Liga europeia. Ouvimos atentamente o retorno de nossos torcedores, do governo britânico e outros. Continuamos empenhados em trabalhar com a comunidade do futebol para criar soluções sustentáveis para os desafios de longo prazo que o futebol enfrenta“, anunciou o Manchester United.
Nenhum clube alemão ou francês se comprometeu a participar da Super Liga. O Bayern de Munique, que levou a taça na Liga dos Campeões da UEFA em 2020, e o Paris Saint-Germain e o Borussia Dortmund, semifinalistas do campeonato deste ano, são ausências importantes da lista.
Os clubes fundadores afirmaram que a crise econômica provocada pela pandemia foi um dos motivos que levaram à iniciativa. “A criação da Super Liga ocorre em um momento em que a pandemia mundial acelerou a instabilidade do atual modelo econômico do futebol europeu“, argumentaram.
A desistências foram anunciadas após um dia de crescente pressão por parte de torcedores, governos e entidades esportivas contra a criação do torneio, que competiria com a Liga dos Campeões e, consequentemente, entraria em confronto com a Uefa e a Fifa. No Reino Unido, até o governo do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, se manifestou e não descartou intervir.
Johnson aplaudiu a saída dos clubes ingleses da Superliga europeia: “Saúdo o anúncio de ontem [terça-feira] à noite. Este é o resultado certo para os fãs do futebol, clubes e comunidades em todo o país”, escreveu no Twitter. “Temos de continuar a proteger o nosso querido esporte nacional“, acrescentou.
No domingo, Milan, Arsenal, Atlético de Madri, Chelsea, Barcelona, Inter de Milão, Juventus, Liverpool, Manchester City, Manchester United, Real Madrid e Tottenham anunciaram a criação da Sper Liga europeia, à revelia de Uefa, federações nacionais e vários outros clubes.
A competição previa ser disputada por 20 clubes, 15 dos quais fundadores – apesar de só terem sido revelados 12 – e outros cinco, qualificados anualmente.
A Uefa ameaçou excluir todos os clubes que integrem o torneio, assegurando contar com o apoio das federações de Inglaterra, Espanha e Itália, bem como das ligas de futebol destes três países.
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