Cinco mulheres evitaram que atentado em creche fosse ainda pior
Autor do atentado tentou entrar em todas as salas da creche, mas não conseguiu ter acesso aos bebês por conta da ação rápida das professoras. Duas delas morreram. "A coragem daquelas mulheres, sozinhas com as crianças pequenas, evitou que um mal maior acontecesse", diz delegado
As cinco funcionárias que estavam na escola infantil em Saudades (SC) evitaram uma tragédia ainda maior. No momento do atentado, 20 bebês estavam na creche. As informações são do delegado Jerônimo Marçal, responsável pelo caso.
As professoras e auxiliares agiram rapidamente ao perceberem o ataque e trancaram as crianças. “Elas, instintivamente, todas elas, trancaram as portas e seguraram as crianças para dentro para que ele [o jovem] não entrasse. Ele tentou entrar em todas as salas e não conseguiu. Com aquelas mulheres guerreiras lá, sozinhas com crianças pequenas, evitando que um mal maior acontecesse. Meus parabéns à bravura daquelas profissionais”, disse o delegado.
Apesar da coragem, o ataque deixou duas professoras e três crianças mortas. A professora Keli Adriane Aniecevski, 30, estava na entrada da creche e se prontificou a atender o jovem quando ele apareceu no local, sem imaginar que algo de ruim poderia acontecer. Pega desprevenida, acabou atacada a golpes de espada e, mesmo ferida, correu para alertar quem estava na creche. Ela morreu na escola.
“Keli foi uma líder, sempre foi uma pessoa que se destacou muito pelo compromisso, pela responsabilidade e pelo respeito pelo próximo em se doar. Ela foi uma verdadeira super-heroína. Conseguiu proteger várias crianças, mas perdeu a própria vida”, disse um familiar.
Após atacar Keli, o autor do crime entrou na sala onde estava a estudante universitária Mirla Renner, 20, que também morreu em decorrência do ataque. Ela trabalhava como agente de educação, auxiliando professores durante as aulas, e morreu após ser encaminhada para um hospital.
Nas redes sociais, Mirla se apresentava como estudante de engenharia química na UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina). “Ela era muito querida, simpática, muito dedicada aos estudos de engenharia. Era filha única”, disse o padrinho de Mirla.
Testemunha
A professora Aline Biazebetti, 27, trabalha no turno da tarde e disse que, como mora em frente à unidade, foi até o local para ajudar após ouvir gritos de socorro. “Elas viram que estava acontecendo alguma coisa, conseguiram levar todos [alunos] para o fraldário e botar debaixo do mármore e uma ‘profe’ conseguiu segurar a porta, ele tentou abrir, mas daí no fim ele [agressor] acabou desistindo. Elas começaram a fechar as janelas para tentar se proteger”, disse.
“Eu estava dentro de casa, escutei gritos de pedidos de socorro. Eram muito fortes. Então eu saí e aí eu vi as meninas, minhas colegas pedindo socorro, para ligar para a polícia. Eu consegui ligar para a polícia, mas quase não pude falar nada, só pedi socorro”, relatou.
“As meninas começaram a trazer os feridos para fora e eu consegui levar um menino pro hospital, mas ele estava bem ferido. É muita tristeza. Não tenho nem palavras porque eu perdi colegas”, lamentou Aline.
Para a professora, o caso surpreendeu a todos, pois geralmente os dias são muito tranquilos na creche. Segundo ela, vai ser “custosa” a volta ao local após o atentado. “A gente nunca esperava isso, nunca mesmo, que alguém entrasse ali e fizesse uma coisa dessa. Não tem nenhuma explicação o que esse cara fez”, disse Aline.
“Comecei como estagiária ali faz uns três anos já, agora entrei como agente educativa. Acho difícil voltar, não sei como vai ser porque entrar lá dentro e lembrar das cenas de horror e pedidos de socorro… fica na cabeça da gente. É muito difícil”.
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