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Ciência 25/Mai/2021 às 10:51 COMENTÁRIOS
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Covid-19 ativa vírus que afetou humanos durante divisão genética com macacos, diz Fiocruz

Publicado em 25 Mai, 2021 às 10h51

Vírus primitivo pode aumentar ainda mais mortes por Covid-19 em UTIs, revela estudo coordenado pela Fiocruz. Pesquisa ajuda a compreender por que alguns pacientes graves submetidos à ventilação mecânica conseguem deixar UTI, enquanto outros não sobrevivem

Covid-19 ativa vírus afetou humanos durante divisão genética com macacos Fiocruz
(Imagem: Fiocruz)

Um estudo coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontou a hipótese de que um vírus primitivo, presente nos humanos há milhares de anos, pode estar sendo ativado pelo coronavírus e provocando aumento de mortes em pacientes graves com Covid-19.

Segundo a agência de notícias da Fiocruz, a pesquisa pode ajudar a compreender por que alguns pacientes graves submetidos à ventilação mecânica conseguem deixar a Unidade de Terapia Intenstiva (UTI), enquanto outros não sobrevivem à forma mais grave da doença.

A pesquisa indica que a presença do retrovírus endógeno humano da família K (HERV-K) está associada não só ao agravamento da doença como também à mortalidade precoce. De março a dezembro de 2020, o estudo acompanhou 25 pessoas em estado crítico que necessitaram de ventilação mecânica.

Com idade média de 57 anos, elas estavam internadas no Instituto D’Or e no Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer. A publicação se chama “Ativação do Retrovírus Endógeno Humano K no Trato Respiratório Inferior de Pacientes com Covid-19 Grave Associada à Mortalidade Precoce”.

“A progressão de casos brandos para graves vinha sendo associada à hipoxia — inflamação descontrolada e coagulopatia. No entanto, os mecanismos envolvidos com a mortalidade em casos muito graves ainda não são bem conhecidos”, explicou a Fiocruz.

Saiba mais: Terceira onda da Covid-19 no Brasil pode ser muito mais mortal, alertam cientistas

Para isso, o estudo buscou compreender o “viroma do aspirado traqueal de indivíduos em ventilação mecânica”. Ou seja, os vírus presentes na amostra. “Os testes mostraram níveis altos de HERV-K, em comparação com exames de pacientes com casos brandos e de não infectados”, diz trecho do estudo.

Ancestral que infectou o genoma humano

Segundo o estudo, o HERV-K é um retrovírus endógeno, um vírus ancestral que infectou o genoma humano quando humanos e chimpanzés estavam se dissociando na escala evolutiva há milhares de anos.

Alguns desses elementos genéticos estão presentes nos nossos cromossomos. Muitos ficam silenciosos durante a maior parte da vida, mas parece que, de alguma forma, o Sars-CoV-2 pode ter reativado esse retrovírus ancestral.

De acordo com o estudo, o índice de morte em pacientes graves de Covid-19 chega a 50% entre os que apresentam altos níveis de HERV-K.

“A gente estabeleceu, de fato, que o Sars-CoV-2 é o gatilho para o aumento desses retrovírus endógenos, para despertar os genes silenciosos”, disse o coordenador do estudo foi Thiago Moreno, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz).

Junto com o aumento dos níveis do HERV-K nos pacientes, os pesquisadores perceberam que fatores de coagulação foram mais consumidos, que ocorreram mais processos inflamatórios e que diminuíram os números de fatores necessários para a sobrevivência de células do sistema imune.

Conforme os níveis de HERV-K aumentaram, os números de monócitos inflamados ativados também cresceram. “Esses níveis de HERV-K se correlacionaram com o que se chamou de mortalidade precoce, como menos de 28 dias de internação”, contou Moreno.

Genes silenciosos em pacientes com Covid-19

Segundo a agência Fiocruz, a pesquisa é a primeira evidência da presença desse retrovírus no trato respiratório e no plasma de pacientes graves com coronavírus. A presença do HERV-K, que ocorre também em outras doenças, como câncer e esclerose múltipla, pode ser usada como um biomarcador associado à gravidade em casos da Covid-19.

Assim como outras doenças, a detecção precoce poderia reforçar o uso de determinadas estratégias, como o uso de anticoagulantes e anti-inflamatórios. Porém, ainda é difícil saber por que isso ocorre em algumas pessoas e não em outras.

Além da Fiocruz, fazem parte da pesquisa cientistas da Universidade Federal de Juiz de Fora, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer e da empresa MGI Tech.

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