Pesquisadores contam que os moradores da região, de maioria negra, convivem com operações policiais que chegam a durar duas semanas, com tiros disparados deliberadamente pelos policiais
Juca Guimarães, Alma Preta
A favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio de Janeiro, pode ter o dobro ou até o triplo de moradores do que indica a estimativa de 37 mil habitantes, dos dados oficiais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Uma população de maioria negra que vive com a lembrança de violências do Estado, como a chacina que matou pelo menos 28 pessoas.
“Não tem dado atualizado e todos sabem que é muito mais do que diz o IBGE. Atuamos para fazer um censo. É uma das maiores favelas e também a com a maior concentração de pessoas negras”, diz o pesquisador Bruno Sousa, do Lab Jaca, centro de dados e narrativas de favelas e territórios periféricos.
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O histórico de violência policial na região decorre, muitas vezes, de retaliações. Em 2017, após a morte de um atirador de elite do Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) da Polícia Civil, foram realizadas operações policiais por duas semanas seguidas.
“Mais de 15 moradores foram assassinados nessas operações, que eram diárias e tinham o caveirão voador da polícia dando tiros a esmo”, lembra o pesquisador Pedro Paulo da Silva, também do Lab Jaca.
No início do ano seguinte, em 2018, um delegado da Polícia Civil foi encontrado morto perto do Jacarezinho e, novamente, foram quase 14 dias de operações diárias.
“Isso não é incomum. Tem um histórico de brutalidade da Polícia Civil. Em uma dessas operações eles atiraram até na direção da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), onde ficavam os policiais militares. Isso porque ativaram a esmo”, lembra Pedro Paulo.
O policial civil morto em agosto de 2017 foi atingido por um tiro no pescoço durante uma operação no Jacarezinho. O governo do Estado chegou a oferecer uma recompensa de R$ 5 mil por informações sobre o crime. O corpo do delegado morto, em janeiro de 2018, foi encontrado dentro do porta-malas de um carro.
Segundo o Geni-UFF (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense), que estuda Segurança Pública, desde 1989, na região metropolitana do Rio de Janeiro, foram 23 operações policiais com mais de dez pessoas mortas. A chacina do Jacarezinho foi a que teve mais mortes.
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