Jornalista implorou para avião não pousar: "Não façam isso, vão me matar!"
Líderes da União Europeia concordaram em impor sanções a Belarus após interceptação de voo comercial para prender jornalista opositor ao governo. Presidente de Belarus já foi comparado a Jair Bolsonaro
Líderes da União Europeia concordaram em impor sanções, inclusive econômicas, a Belarus, que fica no leste do continente europeu. A ação foi tomada depois da força aérea do país ter desviado um avião comercial — que não ia pousar em Belarus — para prender um jornalista, que é opositor do governo.
“Um escândalo internacional”, definiu o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. “Um ato de terrorismo de estado contra cidadãos da união europeia e de outros países”, declarou a primeira-ministra da Lituânia, Ingrida Šimonyte.
O governo britânico pediu a libertação imediata do jornalista. Secretário das relações exteriores, Dominic Raab, não descartou envolvimento da Rússia na operação. A Comissão Europeia disse que o ato ultrajante de Belarus é mais uma tentativa flagrante de silenciar todas as vozes da oposição no país.
O voo da Ryanair com 126 passageiros, partiu de Atenas, na Grécia, no domingo, e seguia para Vilnius, na Lituânia. Quando cruzava o espaço aéreo de Belarus, a tripulação recebeu ordens para desviar o percurso e pousar em Minsk. Durante o trajeto, o avião foi escoltado por um caça militar.
“Vão me matar”
Quando o piloto avisou que o voo estava sendo desviado para Minsk, um passageiro se levantou imediatamente, abriu o bagageiro, pegou suas coisas e começou a transferir parte delas para sua namorada. Editor do canal informativo Belamova, Roman Protossevich, 26, pressentiu que era a causa do estranho incidente.
“Não façam isso. Eles vão me matar. Sou refugiado”, apelou ele à tripulação, segundo relato de uma passageira ao jornalista Franak Viacorka, amigo de Protossevich. Um comissário respondeu: “Somos obrigados. Não temos escolha, são acordos internacionais da Ryanair”.
“Eu vi a reação de Roman: desde o início ele ficou agitado, como se soubesse o que estava para acontecer”, afirmou o viajante ao canal informativo belarusso Tut.by. “Parecia que, se a janela estivesse aberta, ele teria pulado para fora dela”, disse outro passageiro, Edvinas Dimsa, 37, à agência de notícias AFP.
Quando o Boeing da Ryanair, escoltado por um caça e um helicóptero militares, pousou no solo belarusso, cerca de 50 pessoas, entre militares e policiais, além de carros de bombeiro e cães farejadores esperavam na pista.
De acordo com passageiros, agentes belarussos entraram no avião e retiraram o jornalista à força. “Não bateram nele na nossa frente, mas temo pelo seu futuro. Ele estava superassustado. Olhei diretamente em seus olhos, e era muito triste”, disse um viajante à BBC.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, exigiu a libertação imediata de Protassevich. “Este ato chocante do regime de Lukachenko colocou em risco a vida de mais de 120 passageiros, incluindo cidadãos americanos”, disse em comunicado.
O CEO da companhia aérea disse que o pouso forçado do avião em Belarus foi um ato de pirataria e um sequestro apoiado pelo Estado.
O jornalista vivia exilado na Lituânia, de onde comandava uma rede de informações no aplicativo Telegram. O veículo teve papel fundamental nos protestos antigoverno do ano passado, após a reeleição de Lukashenko, que opositores afirmam ter sido fraudada.
O ditador de Belarus é um negacionista da pandemia do coronavírus e já foi comparado a Jair Bolsonaro. Relembre:
— Presidente de Belarus minimiza Covid-19 e age como Jair Bolsonaro