ELEIÇÕES 2022

Miriam Leitão afirma que “na disputa entre Lula e Bolsonaro não há dois extremistas”

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Em artigo que circula fortemente nesta semana, Miriam Leitão surpreendeu muita gente ao afirmar que só há um extremista na disputa entre Lula e Bolsonaro

Miriam Azevedo de Almeida Leitão (Imagem: Marcos Corrêa | PR)

Valter Pomar, em seu blog

No dia 2 de maio, a jornalista Miriam Leitão publicou um artigo intitulado “Centro não é o ponto entre dois extremos”.

O artigo circulou bastante em listas de petistas e houve pelo menos um velho companheiro que disse estar “surpreso, mas tinha que concordar com a jornalista”, entre outros motivos por ela ter dito que “na disputa entre Lula e Bolsonaro não há dois extremistas. Há um: Bolsonaro”.

Sinceramente não consigo atinar o motivo da surpresa. O autodenominado centro aprendeu com 2018 e tentará não repetir o erro em 2022, associando-se a um presidente tão “pesado”. E isto não é novidade, nem no Brasil onde a Globo fez “autocrítica” do apoio à ditadura, nem na Alemanha pós Segunda Guerra, onde não se achava quem houvesse votado em Hitler.

Leia também: Os golpes nunca se dizem golpes, os golpistas nunca se fazem chamar de golpistas

Portanto, tende a crescer o número dos que pedirão para que esqueçamos o que escreveram, disseram e fizeram no passado. Afinal de contas, como disse com sinal trocado FHC em 1993, “o mundo mudou e a realidade hoje é outra”.

No caso, segundo Leitão, mudou para pior: “Em dois anos e quatro meses, Bolsonaro superou as piores expectativas. Na pandemia, ele mostrou seu lado mais perverso. A lista é longa. Deboche diante do sofrimento alheio, disseminação do vírus, criação de conflitos, autoritarismo. O país chegou ao número inaceitável de 400 mil mortos com um presidente negacionista ameaçando usar as Forças Armadas contra a democracia”.

Isto posto, os arrependidos serão ajudados pela mistura de pragmatismo com coração mole que predomina na esquerda.

Lembram do jornalista que popularizou o termo petralha? Lembram do youtuber que disse “não interessa se do outro lado tem Bolsonaro, se do outro lado tem Aécio Neves, f-se. Um chimpanzé na presidência, hoje, seria melhor. Cadeia neste corrupto chamado Lula, neste safado, neste ladrão, neste delinquente desgraçado que afundou o nosso país”? Lembram do economista-de-redes-sociais que foi às ruas pedir o impeachment e atacou Haddad em 2018?

Lembram? Pois então favor esquecer, pois agora são todos amigos do povo na luta contra o inimigo comum.

E Miriam Leitão? Bom, neste caso é melhor ler as entrelinhas do seu artigo.

Lá está dito que Lula:

1-“escolheu ministros do Supremo qualificados e nomeou procuradores-gerais da lista tríplice” (escolhas e nomeações que na maioria dos casos contribuíram muito para o rumo dos acontecimentos);

2-ameaçou “impor” o que ele chamou de “regulação da mídia”, mas “recuou diante da resistência dos órgãos de comunicação” (que também contribuíram muito para o rumo dos acontecimentos);

3-“tem dito que foi inocentado. Tecnicamente sim, porque não é mais um condenado pela Justiça. O PT defende a tese de que foi tudo uma conspiração contra o partido. Falta explicar muita coisa, mas principalmente a materialidade do dinheiro que foi devolvido por corruptos e corruptores ao poder público” (ou seja, a jornalista “tecnicamente” segue adepta da tese segundo a qual o PT e Lula são na verdade culpados até prova – explicação – em contrário).

Além disso tudo, Leitão também diz que “as instituições sabem lidar com um governante que tenha um mau projeto” (sabemos como as “instituições” lidaram com Dilma, com Lula e com o PT).

Frente a estas entrelinhas, ganha outro sentido a frase “o centro deve procurar seu espaço”.

Pois segundo Leitão não existe extrema-esquerda, mas existe extrema-direita e também existe esquerda.

E o “espaço do centro” entre a extrema direita e a esquerda fica… na direita.

Na dúvida, desenhem.

Leia o artigo na íntegra:

Centro não é o ponto entre dois extremos
Por Míriam Leitão • 02/05/2021 • 04:30

Na disputa entre Lula e Bolsonaro não há dois extremistas. Há um: Bolsonaro. O centro deve procurar seu espaço, seu programa, seu candidato, ou seus candidatos, porque o país precisa de alternativa e renovação. Mas não se deve equiparar o que jamais teve medida de comparação. O ex-presidente Lula governou o Brasil por oito anos e influenciou o governo por outros cinco. Não faz sentido apresentá-lo como se fosse a imagem, na outra ponta, de uma pessoa como o presidente Jair Bolsonaro.

O PT jogou o jogo democrático, Bolsonaro faz a apologia da ditadura. A frase que abre esse parágrafo eu disse em 2018, em comentários e colunas, no segundo turno das últimas eleições. Era a conclusão da análise dos fatos e das palavras dos grupos políticos que disputavam a eleição. Fui hostilizada por dirigentes petistas do Rio dentro de um avião, processei por difamação um servidor do Planalto no governo Dilma. Sou vítima de constantes fake news e agressões do gabinete do ódio do governo Bolsonaro. Já fui criticada em público pelo ex-presidente Lula mais de uma vez e fui vítima de mentiras sórdidas ditas pelo presidente Jair Bolsonaro. Poderia com base nisso afirmar que os dois são iguais? Objetivamente, não. Seria falso. Posso concluir que ambos não gostam de mim, mas isso é o de menos. Não é uma questão pessoal.

Em dois anos e quatro meses, Bolsonaro superou as piores expectativas. Na pandemia, ele mostrou seu lado mais perverso. A lista é longa. Deboche diante do sofrimento alheio, disseminação do vírus, criação de conflitos, autoritarismo. O país chegou ao número inaceitável de 400 mil mortos com um presidente negacionista ameaçando usar as Forças Armadas contra a democracia. Em Manaus, no último fim de semana, ele repetiu que poderia lançar os militares contra as ordens dos governadores. “Se eu decretar, eles vão cumprir”. Esse clima de beligerante intimidação prova, diz um general, uma “necessidade doentia de demonstrar ter poder”. Segundo essa fonte, “cada vez que se declara detentor dessa suposta força, demonstra na verdade não tê-la”. Seja qual for a análise da mente distorcida do presidente, o fato é que ele ameaça o país com a ruptura institucional no meio de um doloroso sofrimento coletivo.

O ex-presidente Lula teve uma política ambiental de excelentes resultados na gestão da ministra Marina Silva e do ministro Carlos Minc. O país viu avanços na inclusão de pobres e negros. Na economia, houve erros e acertos. No campo institucional, escolheu ministros do Supremo qualificados e nomeou procuradores-gerais da lista tríplice. Bolsonaro quer devastar a floresta, capturar as instituições e seu governo exibe preconceito como se fosse natural.

Bolsonaro faz ataques sistemáticos aos veículos de imprensa e aos jornalistas. Lula ameaçou impor o que ele chamou de “regulação da mídia”, mas recuou diante da resistência dos órgãos de comunicação. Ameaças nunca devem ser subestimadas, mas as instituições sabem lidar com um governante que tenha um mau projeto. Mais difícil é se defender de um inimigo da democracia como Bolsonaro.

As decisões recentes do Supremo Tribunal Federal tiraram as penas que recaíram sobre Lula e ele tem dito que foi inocentado. Tecnicamente sim, porque não é mais um condenado pela Justiça. O PT defende a tese de que foi tudo uma conspiração contra o partido. Falta explicar muita coisa, mas principalmente a materialidade do dinheiro que foi devolvido por corruptos e corruptores ao poder público.

Bolsonaro usou o sentimento anticorrupção sem o menor mérito, como se vê na sucessão de rachadinhas, funcionários fantasmas, pagamentos em dinheiro vivo e transações imobiliárias que rondam a família. Isso sem falar nas relações estreitas com personagens obscuros, como o miliciano Adriano da Nóbrega.

Partidos de outras tendências políticas devem trabalhar para oferecer alternativas ao eleitor brasileiro, porque a democracia é feita da diversidade de ideias e de propostas. O erro que não se pode cometer é dizer que essa é a forma de fugir de dois extremos. Isso fere os fatos. Não existe uma extrema-esquerda no país, mas existe Bolsonaro, que é de extrema-direita. No governo, ele multiplicou as mortes da pandemia e sempre deixa claro que se puder cancela a democracia.

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