Polícia Federal se rebela contra ordem do governo Jair Bolsonaro para criar polícia política com o objetivo de atingir governadores
Anderson Gustavo Torres e Jair Bolsonaro (Imagem: Carolina Antunes | PR)
Bela Megale, em seu blog
Está deflagrada a primeira crise entre o ministro da Justiça, Anderson Torres, e a Polícia Federal. Um mês depois de sua posse, Torres conseguiu entrar em rota de colisão com a PF ao afirmar que vai requisitar dados de investigações que miram governadores.
O material pode ser usado para abastecer senadores que formam a base de Bolsonaro na CPI da Covid. Delegados afirmaram que a PF não vai compartilhar dados de investigações com terceiros sem determinação judicial. O maior temor é que o órgão seja usado politicamente na CPI.
A avaliação de delegados é que se fizer esse pedido, Anderson Torres vai extrapolar suas atribuições como ministro e pode colocar em xeque a independência da PF.
Para os investigadores, a requisição de dados sobre desvios de verbas destinadas à Covid envolvendo governos estaduais precisa ser feita pelos senadores da base governista e não por um ministro à qual a PF está submetida. Integrantes da corporação afirmam que, se não foi por ordem da Justiça, os dados não chegarão às mãos de Torres, ao menos de maneira formal.
Em toda CPI, o trâmite usual é que parlamentares façam esse tipo de pedido. Diante da solicitação, a PF encaminha a demanda à Justiça, que determina se dados sigilosos dos inquéritos podem ser compartilhados. Os policiais federais dizem ainda que, como delegado da PF, Torres sabe que esse é o procedimento a ser seguido e que há potencial de crise se qualquer dado for compartilhado fora do rito.
Em entrevista à revista Veja, o ministro da Justiça defendeu uma CPI ampla e disse que vai requisitar à PF informações sobre os inquéritos que envolvem governadores em desvios de recursos destinados à Covid.
Até hoje, a PF já deflagrou 77 operações em 23 Estados que investigam suspeitas de irregularidades no uso de recursos transferidos pela União destinados ao combate ao coronavírus. Todas as investigações apuram contratos públicos suspeitos que foram assinados com Estados e municípios na área da saúde e apontam que os valores desviados superam R$ 2,2 bilhões.
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