Policial que atirou de fuzil durante manifestação de mulheres é preso
Nina Lemos, Universa
A cena é chocante. Em um vídeo que circula na internet, um grupo de mulheres está reunido em um protesto pacífico contra a violência contra as mulheres. De repente, se escuta barulho de tiros e as mulheres começam a correr.
Isso infelizmente é real e aconteceu em Paraty, no litoral do Rio de Janeiro, na segunda-feira.
Um policial armado com fuzil atacou a tiros mulheres que participavam de uma manifestação pedindo a investigação de crimes de feminicídio. O homem saiu armado de dentro da delegacia (ou seja, ele estava trabalhando!) e atirou no chão e também arrancou cartazes.
Absurda a reação da polícia a manifestação de mulheres em Paraty que lutam pela criação do Observatório do Feminicídio na cidade! Um policial sai da delegacia portando um fuzil e dispara tiros contra o chão! O direito a livre manifestação deve ser garantido! pic.twitter.com/cjk3MCvQl9
— ERIKA HILTON 🏳️⚧️💉 (@ErikakHilton) May 11, 2021
Ninguém ficou ferido e o policial foi preso no local. O fato de (ainda bem!) ninguém ter se machucado não torna o caso menos alarmante.
Como assim, mulheres vão protestar pedindo investigação e o fim da violência contra a mulher e… sofrem essa violência?
Os números de feminicídio no Brasil são assustadores. Em 2020, 648 mulheres foram assassinadas nesse tipo de crime, aquele motivado pelo fato delas serem mulheres. E quando a gente vai pedir justiça corre o risco de morrer em um ataque armado de ódio, e por parte de um policial?
Esse fato é uma metáfora perfeita de como funciona o ódio a mulheres no Brasil e deveria deixar todo mundo chocado.
Que ódio é esse, que faz com que mulheres sejam mortas pelos seus companheiros e ex-companheiros? O mesmo que faz com que feministas sejam odiadas e sofram ameaças de morte diariamente? Se a gente ser mulher já causa ódio, ser mulher e se manifestar em defesa de outras, gera mais ainda. É assustador.
Você vai protestar contra a violência e tem que fugir de tiros em um país democrático e que não está em guerra?
Como disse a filósofa Marcia Tiburi no Twitter: “os tiros do policial são a imagem concreta de como o Estado Patriarcal trata e violência como as mulheres: ajudando a produzi-la.”
Os tiros do policial contra as mulheres que se manifestavam contra o feminicídio, exigindo investigação por parte da polícia de Paraty, são a imagem concreta do modo como o Estado patriarcal trata o feminicídio no Brasil: ajudando a produzi-lo.
— Marcia Tiburi (@marciatiburi) May 12, 2021
É curioso, mas o ataque aconteceu no mesmo dia do julgamento histórico do caso da advogada Tatiane Spitzner, morta pelo marido, o biólogo Luis Felipe Manvailer em 2018. O assassino foi condenado a 31 anos de prisão. É raro que o feminicídio seja punido com esse rigor, principalmente quando o acusado é uma pessoa de classe média alta, que pode pagar bons advogados.
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Mas, pelo jeito, não temos ainda nada para comemorar. Nossa alegria dura pouco. Como diz a música: “em vez de luz tem tiroteio no fim do túnel. ” Às vezes literalmente.