Esquema incluiu aquisição superfaturada em 259% de tratores agrícolas, a pedido de parlamentares ligados ao agronegócio
Michele de Mello, Brasil de Fato
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criou um orçamento paralelo com cerca de R$ 3 bilhões em emendas, no final de 2020, para conseguir apoio do “centrão” no Congresso Nacional.
Reportagem publicada pelo jornal Estado de S.Paulo revela que a medida incluía a compra de tratores e equipamentos agrícolas por valores até 259% acima do preço de referência no mercado. Os dados foram encontrados em 101 ofícios enviados por deputados e senadores ao Ministério do Desenvolvimento Regional.
Os ofícios, obtidos pelo jornal ao longo dos últimos três meses, mostram que esse esquema também atropela leis orçamentárias, já que são os ministros e não os parlamentares que deveriam definir onde aplicar os recursos.
Os acordos e o direcionamento do dinheiro não foram públicos, assim como a distribuição não foi igual entre os congressistas, evidenciando um interesse eleitoral do governo.
O senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), por exemplo, determinou a aplicação de R$ 277 milhões de verbas públicas só do Ministério do Desenvolvimento Regional, assumindo a função do ministro Rogério Marinho. Se fosse liberar a verba pelas vias convencionais, o ex-presidente do Senado tardaria 34 anos, já que cada parlamentar tem direito a direcionar apenas R$ 8 milhões ao ano.
Alcolumbre enviou R$ 81 milhões à Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), estatal sob seu controle.
Os documentos ainda mostram que o senador destinou R$ 10 milhões para obras e compras fora do Amapá. As máquinas seriam destinadas a prefeituras para auxiliar nas obras em estradas nas áreas rurais e vias urbanas e também nos projetos de cooperativas da agricultura familiar no Paraná.
Sem questionar, o governo concordou em comprar as máquinas por R$ 500 mil, quando o preço de referência era R$ 200 mil.
Também são citados os nomes dos deputados Vicentinho Junior (PL-TO), Ottaci Nascimento (SD-RR), Bosco Saraiva (SD-AM), Lucio Mosquini (MDB-RO) e da ex-deputada Flávia Arruda (PL-TO), hoje ministra-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, responsável justamente pela articulação com o Congresso.
Nas redes sociais, usuários começaram a denunciar que não se trata de um orçamento secreto, mas sim de um “Bolsolão”, um bolo de recursos que o presidente da República utilizou para comprar o apoio de parlamentares.
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