Pedro Castillo, presidente eleito do Peru (Reuters)
Com 99,9% das urnas contabilizadas, esquerdista Pedro Castillo obtém 50,2% dos votos e vence eleição apertada. A candidata da direita Keiko Fujimori não reconheceu sua derrota e pede anulação de 200 mil votos. Entidades internacionais afirmam que não houve irregularidades. Jair Bolsonaro se manifesta: "Perdemos o Peru"
O candidato de esquerda Pedro Castillo já se apresenta como vencedor da acirrada eleição presidencial de domingo (6) no Peru. O professor rural superou por uma estreita margem a direitista Keiko Fujimori, filha do genocida Alberto Fujimori.
Castillo publicou mensagens em tom de vitória ao alcançar 50,20% dos votos contra 49,79% de Fujimori. Já foram apuradas 99,9% das urnas até a manhã desta quinta-feira (10), segundo o órgão eleitoral peruano (ONPE). Castillo obteve, até agora, quase 71 mil votos a mais que a adversária direitista.
O esquerdista recebeu o cumprimento do ex-presidente boliviano Evo Morales por sua vitória. “Muitas felicidades por essa vitória, que é a vitória do povo peruano, mas também do povo latino-americano que quer viver com justiça social!”, tuitou o ex-presidente esquerdista indígena (2006-2019).
Em uma mensagem para simpatizantes na sede do partido Peru Livre, no centro de Lima, Castillo disse que seus observadores consideram certa a vitória no segundo turno. Ele pediu a seus seguidores que não caiam em provocações e inclusive agradeceu as felicitações por sua “vitória” enviadas por países da América Latina.
“Seremos um governo respeitoso da democracia, da atual Constituição e faremos um governo com estabilidade financeira e econômica”, disse Castillo na terça-feira à noite.
“Quero expressar em nome do povo peruano às personalidades de diversos países que esta tarde expressaram saudações ao povo peruano”, acrescentou, em referência a mensagens de “embaixadas e governos da América Latina e de outros países”.
Forças Armadas
As Forças Armadas exortaram “todos os peruanos” a respeitarem os resultados do segundo turno e reafirmaram seu “compromisso de respeitar a vontade cidadã”, em um momento em que circulam nas redes sociais apelos para que os militares impeçam que Castillo assuma o cargo.
Como nas três últimas eleições presidenciais no Peru, quase tão acirradas como a atual, a apuração oficial demora por conta dos votos das zonas rurais, das áreas de selva e do exterior, onde estão registrados um milhão de eleitores.
Tapetão
Keiko Fujimori havia prometido, no início do segundo turno da eleição, que respeitaria o resultado das urnas. No entanto, ela mudou o discurso após ser ultrapassada por Castillo na contagem dos votos na terça-feira. A candidata direitista passou a falar em “indícios de fraude”.
“O Força Popular está na fase de negação das coisas, os fatos vão confirmar que o presidente eleito é Pedro Castillo”, disse à AFP o analista Augusto Álvarez Rodrich, referindo-se ao partido de Fujimori.
Keiko Fujimori chegou a entrar com uma ação nesta quarta-feira (9) solicitando a anulação de 200 mil votos. Luis Galarreta, candidato a vice de Fujimori, afirmou que os delegados eleitorais do Peru Livre fizeram “fraude em massa”.
“A Força Popular está ajuizando hoje ações de nulidade em 802 atas em nível nacional, ações que estão sendo apresentadas ao Júri Eleitoral Nacional (JNE). Isso representa cerca de 200 mil votos admitidos e devem ser retirados da contagem final”, disse Fujimori a jornalistas.
No entanto, o ONPE nega a possibilidade de fraudes, assim como a Missão de Observação Eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA), que classificou o processo de normal e transparente.
O novo presidente tomará posse em 28 de julho e comandará um país em crise, que teve quatro chefes de Estado desde 2018 e que registra a maior taxa de mortalidade do mundo pela pandemia, com mais de 185 mil mortes em uma população de 33 milhões de habitantes. Em 2020, o Peru registrou queda de mais de 11% no PIB (Produto Interno Bruto).
Desigualdades
As eleições deixaram evidente que o país não tem apenas uma disputa política, mas também entre Lima e o interior do país, relegado por séculos e muito afetado pela recessão econômica provocada pela pandemia.
Na região andina de Cusco, a antiga capital do império inca, Castillo recebeu 83% dos votos, e em Puno, às margens do lago Titicaca, 89%. Nestas áreas predominam as populações quechua e aymara, respectivamente.
Jair Bolsonaro
Ao participar de um culto evangélico nesta quarta-feira (9) em Anápolis (GO), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticou a vitória de Castillo e disse que “só um milagre” para reverter o quadro.
“Perdemos agora o Peru. Voltou, pelo que tudo indica —falta 1% de apuração lá, só um milagre para reverter — vai reassumir um cara do Foro de São Paulo. Olha a nova Constituição do Chile. Nós estivemos na beira do abismo”, declarou.