Cérebro de indígenas da Amazônia envelhece mais lentamente, mostra estudo
Estilo de vida de indígenas da Amazônia guarda semelhanças com o de habitantes das zonas azuis do planeta. No mundo, são cinco lugares onde um número expressivo de pessoas passa dos 100 anos com saúde e disposição
Mariza Tavares*, Bem Estar
O norte-americano Dan Buettner se tornou um autor best-seller ao lançar seus livros sobre as zonas azuis (blue zones) do planeta. São cinco lugares onde um número expressivo de pessoas passa dos 100 anos com saúde e disposição: as ilhas de Okinawa, no Japão, e Ikaria, na Grécia; a cidade de Loma Linda, na Califórnia; a Sardenha, na Itália; e a península de Nicoya, na Costa Rica.
Seu trabalho começou em 2003, financiado pelo Instituto Nacional do Envelhecimento dos EUA (NIA, em inglês), e, depois de se tornar reportagem de capa da revista National Geographic, virou um fenômeno mundial. Hoje ele está à frente do bem-sucedido Blue Zones Project, no qual trabalha com governos e empresas para implementar iniciativas que tornem as comunidades mais saudáveis.
No entanto, há outras zonas azuis no planeta. Podem não ter a mesma visibilidade, mas nos dão lições importantes. Uma delas é a região onde vive o povo tsimane, na Amazônia boliviana.
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Uma equipe da University of Southern California descobriu que os indígenas experimentam uma perda de volume cerebral – em outras palavras, de diminuição do cérebro, que é um indicador do envelhecimento – 70% menor que os indivíduos do Ocidente. Os pesquisadores realizaram tomografias do cérebro de 746 tsimanes com idades que variavam entre 40 e 94 anos, comparando os resultados com os de três países desenvolvidos. O estudo foi publicado no fim de maio pelo “Journal of Gerontology, Series A: Biological Sciences and Medical Sciences”.
Embora as nações desenvolvidas tenham acesso a cuidados de última geração, as pessoas são sedentárias e consomem açúcar e gorduras saturadas em excesso. Já os indígenas são ativos e têm uma dieta baseada no consumo de vegetais, peixe e uma quantidade pequena de carne magra, o que os aproxima dos habitantes das zonas azuis mapeadas por Buettner.
“Os tsimanes nos brindaram com um incrível achado sobre o potencial negativo do estilo de vida ocidental para nossa saúde. A atrofia cerebral, que está associada ao declínio cognitivo e à demência, pode ser substancialmente retardada pelos mesmos bons hábitos que diminuem o risco de doença coronariana”, afirmou Andrei Irimia, professor de gerontologia, neurociência e engenharia biomecânica.
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Esses indígenas haviam chamado a atenção dos cientistas quando uma primeira pesquisa, publicado em 2017, mostrou que eles têm corações extraordinariamente saudáveis na velhice. O novo levantamento reforça a relação entre a saúde do coração e a do cérebro.
Aproveitando o gancho, estamos na Semana da Medicina do Estilo de Vida, cujo objetivo é justamente enfatizar a importância de bons hábitos na prevenção e no tratamento de doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão e diabetes. Ela se baseia em seis pilares, que são nutrição, atividade física, sono, manejo do estresse, relacionamentos e controle de tóxicos, que incluem cigarro, álcool, drogas ilícitas e automedicação.
O Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida realizará lives no Instagram todos os dias, às 20h e, no sábado, às 10h: @cbmev.org.br.
*Mariza Tavares é jornalista, mestre em comunicação pela UFRJ e professora da PUC-RIO. Ela escreve sobre como buscar uma maturidade prazerosa e cheia de vitalidade.