Delmar Bertuol
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Educação 08/Jun/2021 às 09:11 COMENTÁRIOS
Educação

ESCOLAS CÍVICO-MILITARES: PRA QUÊ?

Delmar Bertuol Delmar Bertuol
Publicado em 08 Jun, 2021 às 09h11

Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político

Professor de educação básica da rede pública há mais de dez anos, afirmo sem titubear: sim, a indisciplina é um sério problema pedagógico. Atrapalha o processo de aprendizagem do próprio indisciplinado, obviamente; de colegas disciplinados, direta ou indiretamente; e o trabalho e a saúde dos professores, o que, num círculo vicioso, prejudica ainda mais a qualidade do ensino.

Vou me furtar de discutir as raízes da indisciplina, que passam por vários fatores, desde uma educação familiar falha, a carências afetivas e materiais até a fome, entre outras má-sorte.

Não se trata de ignorar isso. Pelo contrário. Se não se considerar a causa, como resolver de fato e profundamente o problema?

Mas quero me ater às medidas paliativas, que também são úteis a curto prazo, e é o que as intervenções militares nas escolas se propõem a fazer. O sargento não quer saber se a menina tomou leite e comeu um bom naco de pão de manhã; ou se o moleque ganhou a bênção do pai ao sair, se é que tem pai conhecido. Não. O de-farda manda os estudantes se porem em forma e gritar em ordem-unida. Disciplina militar. É bom. Precisamos todos em alguma medida de disciplina. Crianças e adolescentes sobretudo.

Porém, a reflexão que faço e proponho é: o que um militar pode fazer que os professores e equipe diretiva não poderiam se lhes fosse dado poder para isso? Sim, pois faculdades administrativas punitivas possíveis à escola são muito limitadas. E sim, estou falando em punição! E já não falei em disciplina?

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O que os militares têm a oferecer além duma farda (que, sim, num primeiro momento enseja respeito) e duma voz acostumada a comandar tropas? Os soldados doravante lotados nos saguões das escolas terão maior autonomia do que preconiza as leis ora em vigor? Se a resposta for não (o que espero que seja), após os estudantes se acostumarem com os coturnos e as vozes grossas não serem tão assustadoras assim, o que lhes restará a não ser as limitações legais?

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Como disse, a discussão acerca da (in)disciplina escolar é abrangente e complexa. Medidas enérgicas e urgentes precisam sim serem tomadas para o bem de todos.

Mas não precisamos de militares fazendo o nosso serviço essencial. As instituições policiais e de defesa são muito bem-vindas com ações e parcerias pontuais, como palestras ou o próprio Proerd, por exemplo. Mas os alunos, por mais “difíceis” que sejam, não são criminosos e nem estão no serviço militar obrigatório para ficarem sob a tutela permanente de guardas. Ao contrário, eles precisam também da liberdade infanto-juvenil. O pátio não pode ser comparado a um quartel ou nem muito menos o horário do banho de sol da penitenciária.

Enquanto políticas públicas não resolverem o âmago do problema, não se pode simplesmente transferir uma falsa responsabilidade a outros profissionais/instituições. Penso que é o caso de fortalecer mais os professores e as escolas, dando maior autonomia e mais possibilidades de sanções administrativas para que a Escola e seus profissionais (verdadeiros especialistas holísticos no assunto) resolvam as questões.

*Delmar Bertuol é professor de História da rede municipal, escritor, autor de “Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha” Acompanhe Pragmatismo Político no Instagram, Twitter e no Facebook

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