Generais temem insubordinação após 'caso Pazuello' terminar em pizza
'Passada de pano' no caso Pazuello pode provocar consequências irreversíveis nas Forças Armadas. Historiador avalia que Exército encontra-se em “situação inédita de submissão”
O Exército Brasileiro decidiu arquivar o processo disciplinar aberto para investigar a participação do general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde de Jair Bolsonaro, em um ato político do presidente.
O Regimento Disciplinar do Exército, que regulamenta as transgressões, veda ao militar da ativa “manifestar-se, publicamente”, “sem que esteja autorizado, a respeito de assuntos de natureza político-partidária”.
O general da ativa participou de um passeio motociclístico com Bolsonaro no dia 23 de maio. Em um dos momentos, ele subiu a um trio elétrico ao lado do presidente e discursou para apoiadores. Porém, na avaliação do Exército, Pazuello não infringiu regras ao participar da manifestação no Rio de Janeiro.
“Isso pode disseminar o vírus da insubordinação”, alertou um general em conversa com o jornalista Gerson Camarotti, da TV Globo.
A percepção interna é que o presidente Jair Bolsonaro enquadrou o Exército ao deixar claro que não aceitaria a punição de Pazuello. Nestes últimos dias, o presidente deu sinalizações claras de que blindaria o ex-ministro da Saúde, inclusive com a decisão de nomeá-lo para um cargo em uma secretaria no Palácio do Planalto com um salário mensal de R$ 16 mil.
O temor entre generais é de que se intensifique um movimento de politização dos quartéis. Um sinal disso foi a demissão, em 29 de março, do então ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva e, no dia seguinte, dos três comandantes das Forças Armadas — Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica).
Situação inédita
O historiador e cientista político Carlos Fico afirmou que a decisão do Exército de não punir Eduardo Pazuello deixa a Força “em situação inédita de submissão”.
“As Forças Armadas e o Exército em particular se envolveu de maneira promíscua nesse governo, aceitando os cargos, dando apoio político expresso, como no caso do famoso tuíte do ex-comandante Villas Bôas. Então, ficou muito difícil para o Exército se afastar minimamente que fosse desse governo por conta desse envolvimento total, o que inclusive passa em boa medida por boquinhas, cargos, salários”, afirmou o historiador.
Nas redes sociais, o ator Gregorio Duvivier lembrou que o próprio Bolsonaro é fruto da impunidade do Exército. Na década de 80, Jair Bolsonaro elaborou um plano terrorista para explodir bombas em quartéis e outros locais estratégicos no Rio de Janeiro. Bolsonaro e outro militar, Fábio Passos, queriam pressionar o comando.
O STM, por nove votos a quatro, considerou Bolsonaro inocente, mesmo depois de uma comissão interna do Exército, chamada de Conselho de Justificação, tê-lo excluído do quadro da Escola Superior de Aperfeiçoamento de Oficiais (ESAO) e de suas explicações não terem sido consideradas satisfatórias.
Bolsonaro é fruto da impunidade do exército. Ele tinha que ter sido preso em 1987.
— Gregorio Duvivier (@gduvivier) June 4, 2021